terça-feira, 7 de julho de 2009

Comentário: Sobre o RPG e a Ignorância Monumental

A prosa desta semana foi um conto, mas, realmente, passar em branco pela absolvição dos rapazes acusados de assassinar Aline S. em Ouro Preto estava me doendo.

Com a fala da Fátima Bernardes ontem no Jornal Nacional, ficou impossível. Ela disse algo como: absolvidos os rapazes acusados de matar Aline em Ouro Preto em ritual ligado ao jogo RPG (enquanto imagens dos dados e do livro D&D eram veiculadas).

Realmente, estou cansada de ver pessoas denegrindo a imagem de jogadores de RPG e do próprio jogo por ignorância. Para quem não sabe: Eu jogo RPG.

!!!

Como???? Você??? Professora de Inglês de escolas super conceituadas da cidade? Mas, você não é boazinha?? Mas você não é casada e tem um filho?? Nas você não é de boa família?? O quê??? Você ainda é M-E-S-T-R-E????

Sim a todas as perguntas: e ainda canto em uma banda de Heavy Metal e visto camisas de banda. E sim, jogo RPG com meus amigos e sou até Mestre de alguns sistemas. O que a maioria das pessoas não percebe é que isto não significa que eu tenha matado alguém, nem que adore o Diabo e nem que use drogas ilegais, oras.

Também, só por esclarecimento, é bom dizer que não pratico rituais satânicos e nem bebo sangue humano.

Quanto a ser boazinha, meus alunos podem discordar às vezes :p

O que quero dizer é: É FODA SER JULGADO PELA IGNORÂNCIA ALHEIA!

Queria eu que todo mundo fosse esclarecido como meus pais: quando eu comecei a jogar há 15 anos - hoje eu tenho 31 - eles, com medo por causa do que todo mundo andava dizendo, pediram que a gente jogasse na minha casa. Eles queriam ter certeza de que eu não estava em perigo: normnal, são meus pais. E viram: tanto que, depois de algumas sessões, jamais tive problemas para jogar na casa dos meus amigos.

Mas, é impossível como o "emburrecimento" causado pela des-informação da mídia tendenciosa é nocivo: teve até um caso de um pai de alguns de meus alunos - que também é professor - que chegou a aventar a possibilitar de solicitar à direção que o jogo fosse proibido na escola! Isto, depois de proibir os filhos dele de jogar: sem nem se preocupar em se informar a respeito. Ainda lembro de uma frase dele (dita aos meus alunos por ele, que repetiram para mim): "o rpg faz as pessoas perderem a percepção da realidade".

Sinceramente, eu contei até 100 para pensar no que dizer. Ignorância é uma coisa que me dói. Ainda pensei na época: para essa pessoa ir ao teatro ou ao cinema deve ser uma experiência dolorosa e angustiante - ele deve pensar que é tudo verdade, já que pensa que adolescentes ou adultos que participam de um jogo de interpretação de papéis podem ter seu entendimento de mundo bagunçado. Que viagem!

Imagino o que o pobre deve ter pensado de mim quando ficou sabendo da minha biografia: por cantar em uma banda de Metal, deve ter me julgado drogada; ainda mais jogando RPG: acrescente-se ao drogada adoradora do Diabo e possível criminosa deturbadora de mentes adolescentes...

E o pior de tudo: mesmo sabendo que eu era educadora, inclusive na mesma escola, a pessoa jamais se deu ao trabalho de me procurar e pedir um esclarecimento. Era o que eu teria feito se fosse meu filho (que diga-se de passagem, tem nove anos e adora RPG - ele joga no meu grupo). Eu quereria saber de todos os detalhes para depois emitir opinião. Esse negócio de falar sem saber é muito arriscado: corre-se o risco de se passar por ignorante.

Então, se alguém me vir na rua ou souber que dou aula para seus filhos, Relax! Eu não costumo morder (exceto se alguém botar o dedo na minha boca :p)

No mais, este foi apenas um desabafo de quem já não aguenta mais rótulos e ignorância.

(Qualquer dúvida, podem me solicitar minha ficha policial: terei imenso prazer de enviar por e-mail para mostrar que está branquinha como a alma do mais puro santinho do céu. Quanto ao resto, vocês vão ter que acreditar na minha palavra - se é que a palavra de alguém que gosta de Metal e joga RPG tem valor :p).

4 comentários:

Lucas Ed. disse...

Érica, obrigado por sua participação lá no blog Continuum. Respondi sua mensagem por lá, mas para evitar que você não tenha acesso, reproduzo-a aqui, se me permite. Abraço!

Érica, pode parecer que eu fui duro ao afirmar que a má fama do RPG é culpa dos jogadores, mas não se engane, as palavras foram muito bem escolhidas...
Tal qual você, jogo RPG há anos. Comecei logo quando meus pais se separaram, e nisso já se vão 17 anos. Tive minha fase com os grupos de RPG, vestindo preto, de pouco papo, e andando por aí em bandos. Por sorte, gozo de ter familiares com a cabeça muito aberta e, à época, meu grande envolvimento com a igreja católica fez com que a pinta de "cara estranho" não colasse.
Quando coloco a culpa nos RPGistas, não é sem razão. Mesmo muitos jogadores adultos gostam de manter em torno de si e desse hobby tão simples e saudável um ar de obscurantismo, de material para iniciados. Agora pense comigo: você é uma mãe zelosa. Um belo dia seu filho aparece com um volume do "Livro de Nod" (figurinha carimbada em todas as matérias difamatórias ao RPG) embaixo do braço. Você dá uma manuseada no material e não entende nada (o dito livro é escrito justamente para parecer um material "real"). Pergunta ao garoto sobre o assunto e ele dá respostas evasivas, pouco claras. Passa pela sala e lá está seu filho, com os amigos, lançando pedaços multiformes e multicoloridos de plástico e gritando coisas como "Rá, consegui! Vou esfaqueá-lo na garganta!". Pode parecer clichê (e é) mas as pessoas temem o que não conhecem/entendem. Quem entende o RPG? Os RPGistas. Eles falam sobre o assunto? Conversam com os pais e vizinhos "não iniciados" sobre o assunto? Não! Cada vez que um competente se cala, dez picaretas abrem a boca: chegamos onde estamos.
A culpa dos RPGistas e acharem que "a Máscara" ou "o Véu" são reais, que a comunidade de jogadores é uma guilda de magos moderna. Não é.
Quando estourou o caso Aline, minha mãe quis saber mais sobre esse "trem de RPG". Expliquei. Mostrei livros, fichas, dados. Contei qual era a idéia da brincadeira. Ela entendeu, tanto que depois explicou pruma vizinha que soltou a célebre frase: "Seu filho mexe com esses trem de RPG, né?"
Entende onde quero chegar? A culpa é do RPGista, que acha mais bonito ser perseguido no seu mundinho do que compartilhar um hobby simples e prazeroso com os demais...

Érica Araújo Castro disse...

Creio que se maioria dos pais fossem como os meus ou sua mãe, uma boa parte dos problemas estaria evitado. Nada como primeiro procurar saber, para depois formar uma opinião... Mas defato, tenhjo que concordar que a aura do "participo de uma coisa que vc não conhece" é atrativa e explorada por alguns...

Anônimo disse...

AS pessoas não se transformam por causa de um jogo, quando são más já nascem com a tendência.
Vim conhecer seu blog e agradecer pela visita e comentário feito no meu blog.
Tenha um ótima final de semana.

Unknown disse...

Oi Erica, primeiro gostaria de parabenizar pelo blog que é muito bacana e depois comentar esse topico tão polemico.Eu jogo RPG a 15 anos e no inicio tive muitos problemas com minha familia, exatamente pela falta de conhecimento e por uma serie de informações distorcidas que saem com frequencia na midia. Em parte concordo que isso esta muito relacionado com a postura dos jogadores, que gostam do clima de misterio que envolve o jogo e por se manterem calados quando barbaries, como as ditas pela fatima no jornal nacional, são vinculadas.
Acredito que o RPG tem a mesma capacidade de influenciar as pessoas que desenhos como pica-pau, tom e jerry e power rangers têm.
Eu continuo achando que RPG não é para qualquer pessoa, afinal é preciso imaginação para se divertir jogando e nem todos tem, mas informação evita que saiam revistas com o titulo "RPG:O demonio abre jogo". (Acreditem essa revista existe e eu tenho ela)

Rodolfo Felipe

 
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