quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

0,01 centavo é dinheiro?

Hoje aconteceu algo que considerei interessante para uma prosa com meus leitores e que motivou a pergunta que intitula este texto. Antes de contar a você o que houve, lhe faço a pergunta: 0,01 centavo é dinheiro? O que você acha?

Aquela pratinha pequena, fabricada pela casa da moeda, realmente vale algo ou não?

Para lhe ajudar a responder, lhe faço outra pergunta: se você receber de troco esta quantia, vai perguntar à pessoa no caixa “onde fica a lixeira?” e ao receber a resposta, depositará lá a tal pratinha já que ela não é dinheiro? Ou, você já tentou pagar a sua conta de luz ou água, serviços essenciais, faltando alguns centavos? Deu certo?

Posso adiantar ao leitor a minha resposta à pergunta que rege este texto: para mim, um centavo é dinheiro sim! Trabalhei por ele e ele me pertence. Inclusive, sempre me lembro que 1 real nada mais é do que 100 centavos, assim como mil reais é, nada mais nada menos, 100.000 centavos – já que o centavo é a menor parte de nosso dinheiro – fabricado com nossos impostos.

Agora, exposto o raciocínio, conto o caso: dirigi-me ao supermercado Sales, em Conselheiro Lafaiete, e comprei algumas coisas. Ao chegar ao caixa, minha conta deu R$22,58, a qual paguei com R$50.

Não é difícil de perceber que o meu troco seria de R$27,42.

Foi o que também pensei, caro leitor. E me pus a aguardar já que a mocinha do caixa não tinha troco.

Após alguns minutos, ao chegar a pessoa com as cédulas que seriam minhas, estendi a mão para receber meus vinte e sete reais e quarenta e dois centavos – certo?

Errado!

Recebi R$27,40.

Sem nem ao menos ouvir um “posso ficar te devendo dois centavos?”.

Já trabalhei no comércio e sei que moedas, de uma maneira geral, são difíceis de encontrar. Especialmente as menores. A de 1 centavo, então, pode ser considerada raridade.

Porém, aqueles dois centavos da conta, do troco, são meus não são? Então, quem arbitra sobre o que acontece com eles seria eu, não é mesmo? Então, se eu ouvisse aquela pergunta acima, mesmo que soubesse que jamais veria o cobre dos meus centavinhos de novo, hipoteticamente, eu estaria decidindo deixá-los para o supermercado.

Mas acontece que há duas coisas em minha personalidade que são gritantes (dentre outras mais): 1) Não gosto de que meu direito de escolha seja tirado de mim. 2) Não gosto que pessoas que não estão com a razão “posem” de ofendidas.

Então, quando a mocinha devolveu-me o dinheiro faltando, sem nenhuma justificativa, sem nenhuma explicação, imediatamente retruquei: “estão faltando dois centavos”.

E qual foi a resposta que recebi?

Pasme caro leitor, mas eu ouvi, literalmente: “não trabalhamos com um centavo... Não posso te devolver só R$27,40?” seguido de um olhar do tipo: “nossa, que cena! Por causa de dois centavos!”

É claro que não me fiz de rogada – plantei-me lá e disse: “Não!”.

A mocinha remexeu na gaveta e achou um centavo e me perguntou se não poderia me dar apenas ele.

“É claro que não!” - me ouviu responder.

Em alguns segundos, magicamente, apareceu a outra moedinha e eu saí correndo para outros compromissos – já estava em cima da hora.

Mas, esta não foi a primeira vez que isto aconteceu comigo neste mesmo supermercado. Eu havia me prometido procurar o PROCON das vezes anteriores, mas quem me conhece, sabe a rotina louca de trabalho a que me submeto – e adoro! Daí, acabava esquecendo.

Depois, adquiri o hábito de pagar apenas com cartão – há um bom tempo não ando mais com dinheiro: acho perigosamente desnecessário. Desta forma, os episódios dos 1, 2, 3 ou 4 centavos que sempre tinha que exigir no caixa do mencionado supermercado acabaram relegados ao fundo da memória até o dia de hoje, quando por uma coincidência eu resolvi pagar com dinheiro e não com cartão de débito.

Tá, mas aí você me diz, porque isso? Um centavo é mesmo pouco dinheiro!

Então, façamos juntinhos uma conta: imaginemos que das centenas de pessoas que passam pelos caixas deste supermercado diariamente, um dos maiores da cidade, o supermercado “fique devendo” os mesmos dois centavos, que a moça não queria me dar de troco, a cem pessoas – considerando-se o número de vezes que aconteceu comigo, com funcionários diferentes, só posso concluir que seja a instrução que eles recebem de seus gerentes. Ao final do dia, o supermercado estaria devendo dois reais a seus clientes.

Ao final de sete dias, R$14 reais. Ao final de um mês, R$60. Ao final de um ano R$720.

Agora, já não parece tão pouco, não é fato?

É claro que essa quantia, ao longo de um ano, é irrisória considerando-se o lucro de um supermercado daquele tamanho. Mas, no meu bolso, faz muita diferença!

E mais: suponhamos que eu vá àquele estabelecimento três vezes por semana – será que, ao final do ano, quando o supermercado estará me devendo cerca de R$2,88, eu poderei entrar e pegar alguma mercadoria no mesmo valor?

Se eu não posso, o supermercado está, de fato, me “devendo” ou me roubando quando instrui aos seus funcionários a não dar trocos inferiores a R$0,05? (Obviamente, estou concluindo que é essa a instrução pelo procedimento repetido por diferentes funcionários, em diferentes situações.)

É claro, que estou levando esta linha de raciocínio pelo simples bom senso: o dinheiro deve ser dado de troco a quem é de direito, não importa qual a quantia. Qualquer outra manobra constitui roubo. Conseguimos chegar a esta conclusão apenas pela lógica, pela ética. Nem é necessário mencionar o Código de Defesa do Consumidor que em seus artigos 30 e 39 deixa bem claro que o consumidor deve pagar apenas pelo que consumiu, pagando sempre o valor exato. Desta forma, na falta do troco, o estabelecimento deve devolver o dinheiro a mais para o consumidor – jamais faltando.

Como bem dito por Carlos Alberto Nahas,assistente da Fundação PROCON de São Paulo “A lei protege o cliente. O fornecedor deve ter sempre à disposição troco suficiente e o real é a única moeda que libera a mercadoria. Balas não são dinheiro” explica.

Porém, a gerência do Sales parece desconhecer a ambos: tanto a ética, quanto o código.

Entretanto, é claro que sempre há o outro lado. O lado da conivência e o da vergonha – porque ao comentar este fato com amigos, não foram poucos os freqüentadores deste supermercado que me disseram já ter passado pela mesma situação, mas que tinham vergonha de falar por tratar-se de pouco dinheiro. Outros poucos disseram que alguns centavos não fariam falta.

Agora, lhe pergunto: vergonha de quê se o dinheiro lhe pertence? Se foi você quem deu duro por ele?

Se confrontado com alguém que lhe dá troco faltando e que lhe pergunta se pode ficar lhe devendo e você diz que sim, é problema seu. Ou, se a pessoa lhe oferece uma balinha no lugar dos centavos – e você aceita, talvez pensando na dificuldade dos estabelecimentos comerciais de obterem moedas de pequeno valor, é com você! (Eu mesma, considerando minha experiência no comércio, se o valor das balinhas é de até 4 centavos, costumo aceitar o prejuízo).

Mas eu jamais aceitaria ser enganada e tratada como se estivesse errada, quando não estou.

Agora, para aqueles que disseram que alguns centavos não lhes fazem falta, respondi para eles e repito para aqueles que estão lendo e pensaram a mesma coisa: ficarei feliz em receber todos os centavos que caírem em suas mãos e nas mãos de todos que não os quiserem. Espero deixar-lhes mais aliviados, dando a eles diversos fins - já que tenho a plena consciência de que SIM - centavos são dinheiro.

E, é claro, aproveitando meu período de férias, procurarei, finalmente, o PROCON.
 
BlogBlogs.Com.Br