segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Copasa, Copasa!


Sempre que me sento para escrever, gosto de fazê-lo depois de um bom banho. É quando começo a relaxar do dia cansativo, refrescando-me – bem, nós brasileiros conhecemos bem a sensação de descanso que um bom banho traz.

Mas, hoje não posso. A Copasa me nega este direito: desde quinta-feira passada, em minha casa e em casas vizinhas, não há água suficiente para o consumo diário: para cozinhar, para beber, para arrumar a cozinha após as refeições – quem dirá para o nosso tão aguardado banho.

Na verdade, a falta de água é um problema que, quando mudamos para o Bela Vista, era constante. Houve um período de melhora, mas de alguns meses para a cá a situação foi piorando, piorando até culminar no desabastecimento que enfrentamos agora, desde o dia 13/09.

Na quinta-feira mesmo registrei reclamação por telefone e fui informada de que havia muitas queixas com relação a esta falta de água no bairro. A Copasa apenas dignou-se a mandar aqui um funcionário no Domingo – terceiro dia de desabastecimento quase total, em que abríamos a torneira com medo de que ela cuspisse a última gota.

E o que os técnicos me informaram? Que o problema é insolúvel – a água não tem potência para chegar ao nosso bairro de maneira completa, especialmente para atingir as casas mais altas. Que não havia nada que eles pudessem fazer.

Agora pergunto: se a Copasa, a concessionária dos serviços de fornecimento de água, nada pode fazer, que posso fazer eu, consumidora? Minha conta está em dia, não há vazamentos em meu lote – minha parte está perfeitamente cumprida. E a deles?

Achei que no Brasil houvesse algo chamado Código de Defesa do Consumidor e que, neste mesmo código, estivesse determinado em seu Art. 22 que “Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, comissionarias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos”.

Pergunto-me se existe algum serviço mais essencial do que o fornecimento de água!

Mas, a verdade é, considerando-se o descaso com que a Copasa trata deste caso, a existência de tal Código é algo ilusório, apenas sonhado porque, mesmo tendo registrado reclamação ainda na quinta, outra na sexta a duas novas na segunda, continuo sem água – nem uma gota sequer. A cozinha permanece com as vasilhas do almoço e meu banho, assim como o respeito ao Código de Defesa do Consumidor, permanece no sonho.

E, mais, o que tem me preocupado sobremaneira – há um empreendimento imobiliário sendo construído aqui perto do meu bairro. Vi a propaganda. Muitos prédios vistosos de vários andares. Pergunto-me se aos futuros moradores está sendo informado que se arriscam a morar em área que fica sem água e mais, que a concessionária nada pode fazer para resolver o problema.

Só me resta apelar para o Chapolim Colorado: “Oh, e agora, quem poderá me defender?”

terça-feira, 24 de julho de 2012

Adeus, oficina da MRS! Viva o Silêncio!


Hoje, recebi de meu marido, ferroviário, uma ligação bombástica – o Ministério Público havia encontrado meios para fechar a oficina da MRS em Conselheiro Lafaiete, de acordo com comunicado dentro da própria empresa.

Os funcionários da MRS, em si, seriam remanejados para outras cidades, em especial, Jeceaba. Todos os funcionários da terceirizada, maior parte dos lotados ali, foram sumariamente demitidos pela simples questão de que seus postos de trabalho foram extintos. Mais de 90 pais e mães de família estão desempregados. Simples assim.

Bem, já há certo tempo, tem acontecido um trabalho de demonização desta empresa em Lafaiete, não há como negar.

Aí, você me fala: demonização merecida! E pergunta: Não é esta empresa que, apenas por ter sido forçada via TAC (Termo de Ajuste de Conduta), reforma o “Castelinho”? Não é esta empresa que atropela pessoas e causa acidentes ao longo da linha férrea? Não é esta a empresa que inferniza a vida dos moradores que moram perto da oficina com barulho em demasia?  Então ela não merece ser pichada e levar um belo “pé na bunda” da cidade de Lafaiete, tão judiada por ela?

Pensemos. Para responder à primeira pergunta vamos entender o que é TAC (Termo de Ajustamento de Conduta). Este é uma espécie de acordo, normalmente proposto pelo Ministério Público e sacramentado por um juiz, em que uma empresa ou quem quer que seja aceita, em vez de pagar multa, fazer um ajuste de procedimentos para que pare de infringir a lei. Ninguém é obrigado a assinar um TAC – você pode simplesmente aguardar que o caso seja levado à justiça, ou pagar a multa, quando for o caso, em vez de investir o dinheiro na cidade.

É impressionante como alguns veículos de comunicação lafaietenses insistem em dizer que a MRS foi obrigada a aceitar o TAC e investir no Castelinho, reformando-o. É contar demais com a ignorância da audiência/leitores alegar algo assim. Vê-se então má fé de quem divulga notícias tentando distorcer os fatos. Começa-se até a questionar quais seriam os interesses por trás disto.

Falemos agora de acidentes na linha férrea, a próxima pergunta. E, ao falar deles, devem-se mencionar as famigeradas buzinas. Só, que não esqueçamos que elas são acionadas como procedimento de segurança, mais de uma vez antes de um cruzamento. Oras. O trem só anda sobre a linha. E ainda avisa a boa distância que está passando! Querer culpar a empresa de trens pela imprudência alheia que acaba em acidentes, realmente, é demais!

E quanto à terceira pergunta? Havia realmente uma questão significativa com relação ao barulho, em especial, no período da noite, barulho este produzido pela oficina com os testes nos trens e etc. Concordo que é impossível que determinado grau de ruído aconteça intermitentemente, dia a dia, em área urbana, especialmente em período noturno. O Ministério Público, então, acionou a justiça e o barulho foi limitado aos horários diurnos. Simples assim. Todos têm que seguir a Lei e o bom senso, óbvio.

A MRS ficou satisfeita de ter seu horário de trabalho limitado? Certamente não. Os moradores ficaram 100% satisfeitos? Certamente não. Mas foi um acordo plausível em que os horários de descanso dos moradores passaram a ser respeitados? Obviamente! As condições de trabalho da MRS foram mantidas, mesmo que reduzidas? Sim – ou seja, estavam preservados os empregos.

Então não é tão simples continuar reiterando a questão do barulho como se não tivesse havido nenhuma mudança.

Em acréscimo, a família de meu marido é originária da região de Divinópolis. Na cidade, há também uma linha de trem que a corta e uma oficina que funciona, inclusive, no bairro de uma das tias dele – como aqui. A empresa ali é a FCA.

E o barulho também faz parte da rotina da cidade – a diferença é que a FCA fica em um bairro mesmo, retirado do centro, diferente da MRS cuja oficina fica em uma das principais avenidas de Lafaiete, tendo intenso tráfego de carros e caminhões durante todo o dia. Pode-se pensar: os moradores de lá devem ser revoltados! Reclamam demais! Certo?

Errado! Além de não se queixarem do barulho que acontece durante o dia – como delimitado pela decisão judicial em Lafaiete – ainda fizeram um movimento para ressuscitar a escandalosa sirene que marcava os horários dos funcionários, seja de entrada ou saída, seja da hora do almoço. A buzina foi transformada em patrimônio da cidade e a empresa teve que apressar-se em trazê-la de volta. Os moradores disseram que a buzina os acompanhou durante toda uma vida – seria descaracterizar sua memória retirá-la deles. Belíssimo documentário elaborado por alunos de faculdade de comunicação local retrata o acontecido. (Alguns detalhes ainda podem ser vistos no blog http://uoon.blogspot.com.br/.)

É claro que comecei a me perguntar o que levou situações tão semelhantes a terem soluções tão diferentes? Em uma a empresa parece agregada à cidade e à sua rotina. Na outra, a empresa é tratada como intrusa por alguns, que são aqueles que levaram o caso até a justiça.

Mas continuemos pensando. E que fique claro que não questiono a emissão de ruídos – todas as atividades humanas o fazem. Com as empresas não seria diferente, mas como esclarecido, a oficina possuía já horário de funcionamento delimitado – testes (que são os mais barulhentos) até as 18h e demais atividades até as 22h.

E mais, havia o TAC: e conforme largamente noticiado em maio, ações estavam sendo tomadas em conjunto por Ministério Público, Prefeitura e MRS para minimizar problemas e investir em cultura.

Assim, fica óbvio que algo está sendo deixado fora da balança.

Por exemplo, muito se falou do ruído. Mas e os empregos? Diretos e indiretos, que fique claro. Pois, desde a limitação do horário de funcionamento da oficina e transferência de parte das atividades para Jeceaba, conheci pelo menos um restaurante que fechou. Servia almoço e jantar para os funcionários da MRS. Além dele quantos mais? E agora? Quantos outros comércios, por exemplo, que vendem ferramentas, rolamentos, parafusos, mangueiras – que forneciam para a oficina que sofrerão quedas nas vendas? E a diminuição na arrecadação para Lafaiete?

Mas, como meu pai sempre me disse para cada ação há uma consequência, por isso devemos pensar bem antes de tomar decisões para não incorrer no erro da precipitação.

Aí você me diz: precipitação? Mas os moradores da Marechal já esperaram por muito tempo! Já foi tarde oficina da MRS! Queremos nosso silêncio!

Esquecem-se, aqueles que assim o pensam, que a MRS não é uma entidade que tenha vida por si só. Ela é constituída por indivíduos e a cada indivíduo corresponde uma família. E hoje mais de 90 chegarão em casa dizendo que perderam seu ganha pão.

Ah! Digamos a eles que se consolem: afinal, o “silêncio” da Marechal foi sacramentado (silêncio este impossível – com ou sem MRS). Expulsamos o demônio de nosso meio! Barulho: nem de noite, nem de dia! Trata-se de avenida já tão silenciosa, não é? Que se danem os que perderam seus empregos e os que ainda perderão em efeito cascata! Dane-se a diminuição de vendas de quem comerciava com a empresa e seus funcionários! Dane-se a queda na arrecadação de impostos! Viva o sossego!

Agora, durma-se com um barulho destes.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Professor e fã de Heavy Metal. Pode?


Sou apreciadora profunda do Heavy Metal e de várias de suas vertentes: thrash (e não trash – como escrevem alguns ignorantes), folk, death e por aí vai. Sou ainda professora de crianças e adolescentes – leciono há mais de dezessete anos, já tendo sido professora de cursos de inglês, e atuando hoje em uma das maiores escolas particulares de Conselheiro Lefaiete e como professora concursada em Congonhas.

E jamais achei que chegaria a me sentir grata por ter sido aceita como tal (professora e metalhead - além de vocalista de uma banda de Metal – a Achilles) pela escola particular onde trabalho. Porque lá, todos sabem quem sou, meus alunos vão aos ensaios da minha banda, alguns, quando autorizados pelos pais (e depois de jurarem que vão se comportar e que não irão ingerir bebidas alcoólicas), vão comigo a shows. Lá na escola também, uma das sócias, a Beth, certa vez me disse que era ótimo que alguém como eu fosse professora: os alunos podiam perceber que se podia gostar de Rock, Metal ou o que seja, e se ter estudado, ter família, amigos. Que ser "rockeiro" e se vestir de preto não significava ser drogado e nem mau exemplo.

É claro que também sempre tive bom senso: poucas são as vezes em que vou trabalhar com camisa de banda - e mesmo quando vou, é sempre com as que não possuem figuras mais chocantes: do mesmo jeito que sou respeitada, eu também respeito.

E hoje, meu ex-aluno, Joelmir Tavares e editor de um dos cadernos do jornal O Tempo  - que, diga-se de passagem, não é admirador de Metal, como eu - me envia o link informando que um professor foi demitido por causa do seu gosto musical.

Ao seguir o link, me deparei com uma notícia, escrita por Marcelo Moreira em seu blog, informando que um professor de História, de nome René, que trabalhava em uma escola particular de São Paulo havia sido demitido por gostar de Rock pesado.

Marcelo discorre sobre a formação sólida do educador e sobre como ele inseria leituras como George Orwel, Ernest Hemingway e mais – não é preciso nem ter vasta cultura para saber a importância de tais autores para o século XX e nem a interação deles com o conteúdo de História.

O tal René também conversava com seus alunos sobre música – normal: eu também converso com meus alunos sobre isto. Indico bandas, sites, músicas. No horário da aula, temos aula: no meu caso, inglês e sua literatura. Mas, fora dele, no facebook ou em qualquer lugar em que eu os vir, dentro e fora da escola, respondo sem constrangimento às perguntas que eles fizerem sobre meu gosto musical. Era também o caso do René.

Mas, como prêmio por manter um excelente relacionamento com seus alunos – algo que quem trabalha na educação sabe ser dificílimo e ao mesmo tempo, que quando acontece, facilita demais a mediação dos conteúdos – ele foi demitido. Pais cujos filhos ouviam as músicas comentadas pelo professor e liam os livros indicados por ele juntaram o fato de que o professor usava camisas de banda em seu horário de folga (como eu invariavelmente faço) e pressionaram a direção para ele fosse demitido.

Na escola onde trabalho já aconteceu algo semelhante: mais de uma vez pais foram à escola dizer, por exemplo, que eu faço parte de uma “seita satânica” ou que sou usuária de drogas. O bom é que, em primeiro lugar, tais eventos foram raros – nos quase sete anos em que lá trabalho, aconteceram duas vezes. Em segundo, a postura da direção é que foi diferente da demonstrada pelo educandário de São Paulo: sempre fui tratada com o maior respeito pela escola e era sempre informada de que tais “reclamações” haviam sido feitas, mas que tanto diretores quanto pedagoga além de asseguraram aos pais que tais informações eram inverídicas e/ou fantasiosas, ainda reafirmavam minha qualidade profissional. Assim, jamais, jamais tive qualquer problema.

Mas isto não foi, de maneira alguma privilégio meu – eu apenas fui tratada pela escola como são tratados todos os bons professores da instituição quando são alvos de fofocas ou reclamações infundadas. Ou seja, o contrário do que acontece quando as reclamações têm fundamento – simples assim.

Acho que por isso fico tão espantada quando leio relatos como este e é inevitável que eu me faça algumas perguntas: qual o tipo de professor seria melhor para aquela escola? O que repete fórmulas prontas e ensina seus alunos a repeti-las ou um que os faça pensar, pesar mais de uma opinião e tirar suas próprias conclusões? Aquele que mantém uma distância intransponível travestido do manto da intelectualidade ou aquele que consegue uma proximidade relativa com seus alunos mantendo com eles um bom relacionamento?

E o pior é que eu realmente penso que, mesmo os pais que reclamaram do professor René responderiam sempre o esperado: aqueles que ensinam a pensar de maneira independente e que têm bom relacionamento. Porém, a coisa muda de figura quando se trata dos próprios filhos porque adolescentes pensantes, que formarão cidadãos pensantes, são infinitamente mais difíceis de lidar e convencer do que aqueles que simplesmente vão agir de acordo com o senso comum. Misture-se pensamento crítico com hormônios a mil e ter-se-á uma mistura de alto teor explosivo.

Entretanto, ser pai ou mãe – como eu também sou – não é tarefa fácil, mas,  falando como quem tem um pré-adolescente em casa, prefiro saber que ele está sendo criado e educado para pensar, pesar e concluir do que para repetir, repetir e repetir. Mesmo que seja mais fácil e muito tentador querer ignorar seus argumentos, tenho que admitir, meu menino os tem e de qualidade – e isto, tenho certeza, muito se deve às excelentes aulas de história, filosofia e literatura que ele tem na mesma escola onde trabalho.

Outra pergunta que me faço quando leio que pais, nos dias atuais, enxergam como problemático que alunos de 14/15 anos escutem músicas indicadas pelo professor, é: será que eles ignoram a existência da internet? Ou será que eles pensam que seus filhos apenas leem ou navegam por sites permitidos por eles? Será mesmo que pensam assim?

Será que estes pais não percebem que quanto mais pessoas preparadas, educadas para tanto, de sólida formação tiverem acesso ao que pensam e ao que ouvem e leem seus filhos melhor – já que isto significa que eles o estarão fazendo sob a orientação de alguém formado para educar, instruir! (E uso aqui a palavra formado com todas as ressalvas que ela possui).

Realmente, eu não tenho palavras para exprimir a alegria que sinto pelo respeito demonstrado por mim pela escola onde trabalho, assim como não tenho palavras para expressar o pesar que sinto pelo caso de René. Como entender o preconceito abissal por trás deste ato - o de demitir um professor preparado e respeitado pelos alunos pelo seu gosto musical? Por incentivar a leitura de autores como George Orwel?

E eu, aqui, em minha realidade que é palpável, onde o fato de eu ser headbanger é visto pelo colégio onde trabalho como algo pitoresco, até mesmo comentado na reunião de pais pelo diretor da escola não como um defeito, mas como um trunfo que me aproxima de meus aluno, achando que nós bangers estávamos livres disto...

O cúmulo que falta é ter-se que incluir na lei contra preconceitos, ao lado da cor e da religião, o gosto musical. Como diriam meus alunos “ninguém merece, né teacher”!

Para quem quiser ler o texto do Marcelo Moreira.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Tapa na cara é caso de morte - o caso da diretora esbofeteada por uma mãe de aluno


Era isso que diziam os antigos. O rosto, como preferem alguns, é local sagrado do corpo – porta a nossa vergonha, já que, segundo outro adágio, é a cara que demonstra nossa honra ou desonra, pois é na cara que está a vergonha.

Mesmo em filmes vê-se: quando se odeia sumariamente, cospe-se a face, não o peito, não os cabelos, não as mãos, não o torso – mas a face - como demonstração máxima de desprezo. É ainda a face que recebe o afago e o carinho como demonstração de amor e afeto.

Vê-se, portanto, que tal parte de nosso corpo é altamente sensível – e muito representativa de quem somos e do que sentimos.

E, tendo tais coisas em mente, passo a relatar  o acontecido em uma escola de Congonhas-MG, onde sou professora concursada. Lá, uma determinada aluna apresentou mau-comportamento em sala e nos espaços de convivência – nada de deveres, nada de atenção às aulas, nada de nada. Além disto, apesar de ter apenas seis anos, mostrava questões relativas à sexualidade pouco apropriadas à sua idade. Tais fatos, além de informados pela professora ainda foram corroborados pelas auxiliares que acompanham o recreio.

Obviamente, a mãe foi convocada. Obviamente, ela deveria ser informada.

E aqui, faço um aparte. Sou professora, mas também sou mãe. No caso de ser convocada pela escola pelos motivos acima, entenderia que seria urgente conversar com meu filho. Estabelecer limites, falar sobre o respeito ao corpo – o mundo de hoje é altamente perigoso, com pedófilos nos lugares mais insuspeitos – a minha preocupação me faria trabalhar junto com a escola para entender e corrigir meu filho, certo? Meu amigo leitor não faria algo semelhante?

Pois é. Mas o que fez a tal mãe?

Saiu furiosa da escola. Retornou no dia de uma festividade e ofendeu a diretora que, no cumprimento de suas atribuições, a havia informado do comportamento da filha no afã de que família e escola trabalhassem juntos em prol da criança. Gritou raivosamente no meio de todos demonstrando profundo desrespeito pelos presentes – alunos, professores, cantineiras, visitantes.

Foi-se de novo, mas não pela última vez. Ela ainda retornaria na segunda-feira, dia 04 e aí, sim, na maior demonstração de falta de compostura e civilidade agrediu a diretora com palavras e deu-lhe um bofetão no rosto, fugindo logo depois.

Os presentes, estupefatos, mal podiam crer no que haviam visto – as testemunhas foram muitas: secretárias, bibliotecária, alunos. Não criam porque, afinal, sempre tendemos a pensar que tais coisas acontecem com os outros, na casa dos outros, na escola dos outros. Nunca na nossa!

Mas, o fato é que aconteceu em uma das minhas escolas – minha sim: fruto dos meus impostos e do meu suor que junto com os impostos e o suor de outras pessoas fazem dela o que ela é – um local onde há problemas, sim, como todos os outros. Mas, um local onde se trabalha, se educa, onde se ensina e onde se aprende – e, certamente, onde se acerta mais do que se erra. Temos ali algumas centenas de alunos que já passaram por nossas mãos que podem, serenamente, afirmá-lo.

E, foi ali, local de estudo de uma centena de crianças, que tal pessoa, tal mãe, sentiu-se no direito de, enlouquecidamente, esbofetear uma pessoa, uma mulher, uma brasileira,  uma cidadã, uma mãe, uma viúva, uma avó, uma professora, uma funcionária pública, uma educadora. Que, também, vem a ser a diretora da escola.

Quando aquela bofetada foi desferida, ela atingiu a todos nós: todos nós que trabalhamos para educar a juventude mediando-lhe conhecimento para que passem com sucesso pelo processo civilizatório. Todos nós que desejamos uma escola pública melhor e mais digna dos nossos anseios. Todos nós que queremos proteger os nossos filhos da violência. Todos nós que falamos e repetimos que problemas e questionamentos não se resolvem com brutalidade.

Sim, afirmo e reafirmo que tal tapa doeu-me a face e doeu a face de todos os funcionários, alunos e pais de alunos daquela escola e de todas as escolas. Com aquela atitude ela feriu a todos nós.

E “tapa na cara é caso de morte”.

Porém, para a sorte de tal senhora, nós passamos por todo o processo civilizatório e não apenas ensinamos – mas acreditamos – que problemas que não podem ser resolvidos com diálogo, resolvem-se na justiça.

E é assim que aquela diretora, que hoje voltou à escola e reassumiu suas funções depois de alguns dias de licença, está fazendo. Foi registrado boletim de ocorrência pela polícia militar e foi iniciado processo administrativo na Secretaria de Educação de Congonhas, cidade tão ciosa e zelosa de sua educação.

Entretanto, é agora também que nós, que não fomos fisicamente atingidos, mas fomos sim, atingidos em nossa honra profissional, temos que demonstrar que não estamos desatentos e que, observadores, ansiamos por providências cabíveis por parte das autoridades. Mais do que isto – exigimos que tais providências sejam tomadas.

Apenas a justiça e a certeza da punição impedem que atitudes tais se repitam. Não esperemos que a violência, tão comum em outras esferas, invada nossas escolas e atinja aqueles que a frequentam – sejam eles alunos ou funcionários.

Que seja cumprida a lei – é o que clama uma pessoa, uma mulher, uma brasileira,  uma cidadã, uma esposa, uma mãe, uma professora, uma funcionária pública, uma educadora.

E a certeza que tenho é que por esta justiça não clamo apenas eu.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

CCZ de Conselheiro Lafaiete - Campo de concentração para animais


Há cerca de 50 dias uma cadela da rua, a Pretinha – ela mora na rua e todos cuidam dela – resolveu parir na minha casa. Oito filhotinhos!

Eu e minha família os vimos sendo amamentados enquanto ao longo dos dias cuidávamos dela pensando em qual seria a melhor solução para doar os filhotinhos quando eles fossem desmamados – abandonar na rua, obviamente, era algo fora de cogitação.

É claro que a primeira opção era levá-los para o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da cidade – é para isto que ele serve, afinal!

E assim foram-se passando os dias, os filhotinhos foram crescendo e ficando muito engraçadinho, como todo filhote. Começaram a comer ração e, finalmente, chegou o dia em que deveríamos levá-los para o CCZ. Estávamos confiantes – havíamos visto em jornal da cidade reportagem dizendo que o órgão havia recebido uma recente injeção de dinheiro e que havia voluntários auxiliando no seu funcionamento.

Assim, liguei para lá relatando a minha situação e qual foi a informação que recebi: o CCZ não recebe animais – está superlotado e com vários animais doentes. Que eu deveria procurar doar por conta própria, deixar em casas de agropecuária que aceitassem expor os animais, ou levar a uma feira de adoção do próprio CCZ.

Fiquei brava! Achei que era má vontade – não havia lido a reportagem dizendo das maravilhas do lugar? Então, como assim estava cheio, com animais doentes contaminando uns aos outros? Como assim eu ainda teria que correr atrás de gente que quisesse os cachorrinhos sendo que existe um órgão responsável para isto?

De qualquer forma, meu marido e eu resolvemos que tentaríamos: em um sábado de manhã percorremos várias casas de agropecuária tentando deixar os cachorrinhos em exposição e não conseguimos – nem mesmo oferecendo para pagar os custos que existissem enquanto eles permanecessem lá.

Resolvemos, finalmente, ir ao CCZ e entregá-los lá. No caminho liguei para a Guarda Municipal relatando o problema e a ilegalidade da recusa de receber os filhotinhos - era esta a finalidade do órgão, afinal. Enfim, chegamos “armados” de nossos direitos – ou eles receberiam os cachorrinhos ou a coisa viraria caso de polícia.

Batemos no portão e a primeira surpresa – fomos recebidos por dezenas de cachorros – soltos e ladrando furiosamente. Não entramos: aguardamos do lado de fora.

Um voluntário nos recebeu na rua – e ele foi claro quando disse: “vocês que sabem, se quiserem, vão deixar os filhotinhos aqui, mas eles vão morrer. Estamos com uma crise com vários animais doentes, muitos com cinomose. Eles vão morrer. Vocês vão deixar eles aqui?” Ele aproveitou e nos informou que o CCZ estaria na festa de 1º de maio, na rodoviária, onde tentaria a doação de alguns animais.

Dispensável dizer que trouxemos os filhotinhos de volta - não os entregaríamos para uma sentença de morte.

Desta forma, no dia 1º de maio fomos à rodoviária com os pequenos e, mesmo que o pessoal do CCZ não tivesse aparecido, conseguimos doar 7.

Com o único filhote que restava resolvemos ir à Zoonoses saber o porquê de eles não terem ido até a festa na rodoviária e  - sinceramente – para avaliar se a situação seria tão séria quanto descrita pela pessoa que nos atendeu, ou se arriscaríamos deixar a filhotinha lá.

Desta vez, entramos. O cheiro do lugar era horrendo. A visão dos cachorros pior ainda – cães com feridas abertas, outros magricelos e mancando misturados a ainda outros aparentemente saudáveis. Todos soltos correndo para lá e para cá.

Quando chegamos, alguns voluntários procediam a limpeza do local que estava com fezes de todos os tipos espalhadas – dejetos de aparência normal, dejetos de diarreia, ou seja, situação completamente insalubre.

Os cães eram uma profusão de tamanhos: pequenos, médios e grandes. Soltos por todo o local, latiam loucamente e mordiam-se uns aos outros. Vários com pústulas purulentas pelo corpo, vazando sangue.

Um pequeno de aparência saudável me surpreendeu: quando cheguei, pulou em mim e me olhou de uma maneira que parecia dizer: “me tira daqui!” - foi de cortar o coração.

Enquanto esperávamos para falar com a responsável, Sr(a) Carla, pudemos ver as condições absurdas em que são deixados os cães: não há canil – cães doentes ficam junto com sãos. Não é a toa que estão com problemas com Cinomose – a doença é transmitida por secreções e não há isolamento para os cães doentes. É um absurdo!

É claro que é necessário que se faça um parêntese: as pessoas lá – funcionários e voluntários – esforçam-se em fazer o melhor. Mas o básico para que se faça o melhor é oferecer a eles condições de trabalho com locação apropriada e remédios e alimentos suficientes para tratar de todos!

Voltamos com a cachorrinha para casa e aqui ela ainda aguarda por uma família. Mas eu me pergunto: o que será daqueles cães?

E mais: quem na prefeitura deixará a hipocrisia de lado e fará com que o Centro de Controle de Zoonoses de Lafaiete funcione cumprindo sua função: que é recolher os animais, tratar deles e colocá-los para doação?

Porque, verdade seja dita, sobre campos de concentração tive apenas notícia – mas foi a primeira correlação que fiz quando lá pisei e vi em que condições a prefeitura de Lafaiete deixa os animais dos quais deveria recolher e cuidar.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

"Vergonhosa falta de transporte escolar em Lafaiete"

Recentemente, deparei-me mais uma vez com o problema do transporte do meu filho: é impossível conseguir van que o leve partindo do meu bairro! Moro no bairro Bela Vista, próximo ao Rochedo, Real de Queluz, etc – e como eu, muitos pais destes mencionados bairros estão passando pela mesma dificuldade: simplesmente não há quem leve nossos filhos.

E olha que eu liguei para mais de vinte pessoas responsáveis por transporte escolar e obtive sempre as mesmas respostas “Bela Vista? Não faço!”, “Está longe da minha rota”, “Colégio Potência? Não faço de tarde.” O único que encontrei que faz transporte partindo do meu bairro não tem vaga desde o ano passado.

Comecei a me questionar: será que há poucas pessoas habilitadas para trabalhar com vans e bestas? Será que não há interesse de trabalhadores em busca de aumentar a frota que faz tal trabalho? Enfim, qual o motivo de já pelo segundo ano consecutivo eu não conseguir transporte para meu filho?

A resposta me apareceu quando pensei ter resolvido meu problema: consegui entrar em contato com um rapaz, o qual chamarei José, que estava adquirindo sua própria van para trabalhar. Contratei seus serviços na hora, pensando ser benção dos céus. Ele havia me explicado que a licença estava para sair e que já havia conversado na prefeitura e tudo o mais que era necessário – na segunda, dia 06, já estaria com seus papéis na mão.

É impossível dizer o alívio: eu e meu marido trabalhamos fora de Lafaiete – meu marido a semana toda em Jeceaba e eu três dias da semana em Congonhas e os outros dois dias aqui mesmo na cidade. Para mim é um grande transtorno fazer o transporte do meu filho já que meus horários de professora são muito corridos: muitas vezes saio de sala 12h20min para correr em casa, almoçar, levá-lo para a escola (onde ele chega atrasado, obviamente), e pegar serviço em outro colégio.

Mas, meu problema estava resolvido, certo?

Errado! Minhas esperanças foram frustradas quando José me ligou na segunda a noite me informado que seu pedido de licença havia sido negado.

Com base em quê? Em sua falta de habilitação? Não: ele possui a carteira de motorista necessária. Em uma van precária? Não: ele acaba de comprar uma novinha em folha. Falta do curso de transporte escolar? Não, ele também o tem.

Qual o problema então?

A pressão que a associação relacionada aos transportadores de escolares faz na prefeitura para que não libere mais licenças, segundo informações obtidas por mim, informalmente, com vários dos motoristas de vans que tentei contratar para levar meu filho – e que se recusaram. Um deles até me disse: “licença não é fácil de conseguir não: a gente faz pressão pra não liberar, senão atrapalha a gente!”

E a ausência de motoristas para fazer o transporte dos nossos filhos não nos atrapalha? É absurdo que nós pais, fiquemos sem alternativas viáveis para o transporte de nossos filhos para a escola por falta de licenciamento de profissionais, que existem, perfeitamente capacitados para fazer o trabalho.

Isto, sem falar do grande preconceito com relação aos nossos bairros! Moro a doze minutos do centro, mas todos os motoristas de van dizem que é longe demais. A mesma resposta vários pais que conheço receberam.

Então porque não há ação do poder público? Por que as tais licenças não são fornecidas a quem se predispõe a trabalhar?

Gostaria de saber se alguém da tal “associação”, da qual nem o nome sei, muito menos a legalidade, irá fazer o transporte do meu menino para que ele não chegue atrasado todos os dias na escola.

E ainda há quem se sinta no direito de dizer que licenças não podem ser liberadas! Mas eu aposto que os filhos deles chegam às escolas sem problemas.

Conversando com o José, fui informada de que outras pessoas que fazem transporte estão comentando quantos telefonemas em busca de transporte os motoristas já licenciados e trabalhando têm recebido – e que não podem atender: simplesmente não há número de vagas suficientes. Isto o deixa extremamente frustrado: sua van novinha está lá, sem nenhum aluno para levar. Mas ele também disse que não vai desistir.

Agora é torcer para que haja sensibilidade e respeito por nós pais por parte do poder público.

Ou seria pedir demais?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"Envenenamento de animais de rua: triste realidade no Bairro Bela Vista"

Há alguns anos resido no bairro Bela Vista: lugarzinho aprazível, com uma vista de dar inveja – bem merecedor do nome.

Minha família foi a segunda a mudar-se para este conjunto de 151 casas e aqui temos ótimos vizinho – humanos e animais.

Animais, sim, porque o bairro, por motivo que ignoro, passou a concentrar certo número de cães abandonados – ao redor da minha casa ficam vários: a alguns nos apegamos e as crianças da vizinhança deram nome. São muito queridos, apesar de não os podermos acolher – já possuímos nossas duas: Melissa e Pitchula.

Mesmo que não sejam nossos, desde que nos mudamos – e não havia mais ninguém na nossa rua – passamos a cuidar informalmente deles: dando água e ração sempre que fôssemos tratar das nossas, que ficam presas no canil. Ás vezes, temos dois, três cães “visitantes” aguardando um tantinho de ração, o qual jamais negamos, em especial aos que não possuem dono.

Aos poucos, a rua foi ficando habitada, assim como nosso bairro – famílias ocuparam todas as casas e várias delas compartilham com meu marido e eu o carinho pelos bichos. Assim, mesmo sem dono, os cachorros estavam bem alimentados, tratados contra pulgas e eram extremamente amistosos.

Alguns deles pareciam ter adotado nossa casa: ficavam por aqui, no entorno durante todo o dia e com muito carinho vinham nos receber quando chegávamos do trabalho.

É o caso da Pretinha e do Bege – os mais frequentes e mais queridos. A Pretinha, desde que nos mudamos para cá, já teve várias crias e, por sorte, conseguimos, junto com os demais vizinhos, arrumar casa para todos os pequenos. Também, eles saíam-se sempre à mãe: engraçadinhos, inteligentes, amistosos.

Pretinha e Bege, adotados pelas pessoas, ainda cuidavam das casas latindo estranhos que se aproximassem, mas sempre recebendo aos moradores com carinho.

Eu havia tentado que eles fossem recebidos na ONG que existe em Lafaiete e acolhe animais de rua, mas fui informada por uma de suas mantenedoras que, infelizmente, eles estavam sem espaço.

Assim, fomos levando – cuidando deles e eles sempre por aqui.

Qual não foi a minha surpresa quando, ao chegar em casa ontem, colegas de meu filho vieram avisar que o Bege estava morto – bem que havíamos estranhado sua ausência na hora da ração.

Meu marido e filho foram conferir e para nosso grande desgosto lá estava ele, realmente morto, com outro cachorro – este, sem nome – ao seu lado. Seus cadáveres haviam sido jogados próximo ao campinho em que as crianças do bairro jogam futebol.

Pretinha também está sumida o que nos preocupa e entristece.

Qual a conclusão óbvia? Veneno, é claro. Desde que nos mudamos contabilizei sete animais mortos, dentre gatos e cachorros.

É importante dizer que não sou dos “ecochatos” nem daqueles que tratam os animais como se fossem humanos. Não tenho a menor dor na consciência de consumir carne advinda de matadouros legais – não me vejo na obrigação de ser vegetariana porque amo os bichos. Entendo sua função social e alimentar, afinal, evolutivamente nem mesmo superamos o consumo de carne, precisamos dela.

Entretanto a crueldade com os animais me revolta.

Chega a me doer o estômago quando penso na dor sentida pelos meus amiguinhos de quatro patas quando mortos de tal maneira bárbara.

É óbvio que liguei para a polícia – envenenar animais é crime ambiental, está na Lei – mas fui obrigada a aceder quando informada pelo 190 que pouco poderia ser feito na ausência de um suspeito e que, normalmente, a investigação não seria feita pela Polícia Civil já que trata-se de um crime “menor”. Procurando informações na internet vi que, realmente, sem alguém para apontar como suspeito, pouco se pode fazer.

Posso entender que crimes contra humanos tenham prioridade de investigação por uma polícia que não possui contingente suficiente nem para tratar do necessário – mas, cá estou. De mãos atadas.

O sentimento de impotência é grande e justificado: possuímos uma lei cuja aplicação é impossível, uma vez que, mesmo que haja o envenenamento dos animais, mesmo que tal ato implique em prisão, ou, no mínimo em uma pena social, não há polícia que investigue e, portanto, não há juiz que puna.

Enquanto isso, meus amigos de quatro patas seguem morrendo. Ainda me lembro do último que se deitou no meu passeio para morrer babando, vomitando e retorcendo-se de dores.

Quanto ao Bege, espero que sua morte tenha sido mais breve e menos dolorosa.

Quanto a quem o envenenou: já que o braço da lei não lhe alcança, só posso desejar-lhe a mesma dor que causou aos meus amigos de quatro patas.
 
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