sábado, 26 de outubro de 2013

O dilema ético dos testes em animais

É bom começar esse texto afirmando que para mim usar qualquer animal para testes laboratoriais visando a produção de cosméticos é errado - creio que nem precisa dizer. Para qualquer um que tenha o mínimo de consciência isso é tão somente lógico. A minha vaidade não vale o sofrimento de nenhum ser - por menor que esse sofrimento seja.

Entretanto, quando penso em desenvolvimento de remédios é necessária uma maior reflexão por parte de todos.

Por ser um tema tão delicado, já que envolve sim sofrimento de seres, venho ao longo dos anos tentando me posicionar. E para tanto, ouvi pessoas das mais variadas colocações, li reportagens das mais variadas fontes, conversei com protetores de animais que respeitos (porque não respeito a todos por achar muitos deles um bando de hipócritas). Enfim, procurei me informar de várias maneiras possíveis.

E o fato é que, quando converso com quem entende do que está falando, todos eles, inclusive os protetores bem informados, são peremptórios em afirmar que existem testes que podem ser eliminados por medidas substitutivas. Mas existem outros muito importantes para os quais não existe ainda medida alguma que os substitua para que se produza uma substância que alcance a segurança necessária para ser testada em humanos.

Sim, porque os testes também são feitos em humanos – não devemos nos esquecer - especialmente aqueles com doenças irreversíveis que não respondem aos tratamentos existentes. A vários deles, quando em tratamento em hospitais vinculados a centros de pesquisas, é oferecida a possibilidade de servirem como cobaias em um dos últimos passos da pesquisa para que a substância seja, finalmente, oferecida para a população geral.

Porém, meu dilema ético permanecia. Porque eu realmente gosto de animais. Muito.

Por isso continuei conversando e pesquisando. Até que outro dia, em conversa com uma protetora de animais extremamente coerente e que admiro muito, a Rosimeire, eu consegui entender o cerne da divisão entre os que se posicionam reacionalmente a favor ou contra os tais testes. Ela me disse: “o sofrimento dos animais é equivalente ao meu. Eu não vejo diferença entre eles e eu. Então, não admito testes neles.” E mais, como pessoa bem informada que é – e radical na sua defesa dos direitos dos animais – disse: “não existe substitutivo para todos. Com a proibição dos testes haverá mais vontade e empenho em descobrir tais métodos. Enquanto a lei permitir os testes, não haverá esforço para que os animais sejam protegidos.”.

Daí percebi que o cerne está em pensar que os animais devem ser revestidos dos mesmos direitos da pessoa humana. É, de fato uma questão ética. Quem está certo? Quem pensa assim ou quem não pensa?

Eu poderia lhe afirmar que não há certo ou errado, já que esse posicionamento é baseado em formas diferentes de encarar os vários seres que habitam esse nosso planeta. E todos nós temos o direito e o dever de nos posicionar após reflexão e raciocínio. Mesmo que tal reflexão e raciocínio gerem pensamentos e opiniões diferentes em pessoas diferentes.

Por isso, eu respeito muito a opinião dessa minha amiga, defensora tão apaixonada de suas opiniões. E eu confesso: gostaria muito que estivéssemos em um momento científico em que pesquisas em animais VISANDO A PRODUÇÃO DE MEDICAMENTOS pudessem ser completamente eliminadas. A verdade é que ainda não podem.

E é claro - não estou defendendo nem esse nem aquele laboratório. Especialmente os que fazem pesquisas para cosméticos ou que descumpram o que a lei permite em termos de testes em animais. Esses últimos, inclusive, devem ser punidos nos rigores da lei.

Porém continuando a reflexão com vocês, caros leitores, gostaria que escolhessem o que preferem – mesmo que não seja uma escolha fácil. E foi a resposta a essa hipótese que solucionou para mim e, finalmente, fez com que eu pudesse me posicionar.

Assim, eu pensei em qual situação me sentiria pior (lembrando: nesse caso não há escolha 100%).

Escolha, como eu escolhi entre dizer a um tetraplégico que ele jamais poderá andar porque, por exemplo, médicos como Miguel Nicolelis vão ter que parar de testar em cérebros de macacos; ou pensar que esses mesmos macacos (e outros animais) estão sendo usados em testes que gerarão benefícios e garantirão a melhor saúde  para a humanidade.

Eu escolhi a segunda. Avaliando o custo ético de ambas, para mim, a segunda opção é a válida. Porque se aquele tetraplégico, aquele canceroso, aquele diabético, aquele portador de tantas outras síndromes passíveis de serem amenizadas ou curadas com esses químicos que precisam dos testes tratados aqui para serem seguros, fossem meus entes queridos eu não perguntaria se o remédio foi experimentado em algum animal. Eu perguntaria se o remédio FUNCIONA.

É o mesmo caso, por exemplo, dos casacos de peles: no corpo de qualquer um para mim é um acinte. Desnecessário! Abusivo! Exceto se for um inuit (esquimó). Para eles é uma questão de sobrevivência - e é aqui exatamente onde eu queria chegar. Se não é uma questão de sobrevivência - testes que garantam melhoras à saúde da humanidade, para mim não se justificam.

Entretanto se forem para medicamentos, se justificam - SE E ENQUANTO NÃO HOUVER OUTRO TESTE QUE OS SUBSTITUAM.

Pelo simples fato de que eu não sou hipócrita. Eu consumo remédios - nem que seja para uma esporádica dor de cabeça. Se meus entes queridos adoecerem eu quero substâncias químicas seguras para que eles alcancem a cura.


Entretanto, sem nunca esquecer que pesquisas podem e devem ser feitas para que se busquem mais e mais métodos substitutivos de forma a chegar o dia em que se possam eliminar completamente os testes em animais. Talvez, isso devesse fazer parte da lei que regulamenta os tais testes - que se o laboratório se predispõe a fazer testes nos bichos, que parte de seus lucros sejam revertidos obrigatoriamente para instituições que pesquisem a substituição dos animais nesses experimentos. Quem sabe assim não se chegaria mais rápido a uma solução para esse que para mim, e para tantos, é um impasse de consciência?
 
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