Se perguntarmos a bangers brasileiros com relação a nomes de bandas de metal e suas vertentes que seriam referência para eles, quais as possíveis respostas? Muito provavelmente Black Sabbath, Iron Maiden, Megadeth, AC/DC, Led Zeppelin, Exodus… Se a questão envolver nomes de músicos, ouviremos, provavelmente: Ronnie James Dio (Black Sabbath e solo), Joe Satriani, Steve Vai, Geezer Butler (Black Sabbath), Geddy Lee (Rush), Neil Peart (Rush), John Bonham (Led Zeppelin), e a lista continuaria ainda…
É engraçado como as respostas a perguntinhas básicas que envolvem influências, ou seja, as bandas ouvidas pelos apreciadores do estilo, nos mostram como as nossas referências em termos de rock and roll e metal andam carecendo de um pequeno detalhe: nomes próprios. Sendo assim, é impossível que não se questione se tais nomes e influências inexistem em nosso cenário.
Em outras palavras: se o nosso panorama musical resume-se à boa MPB; à dita MPB (aquela de péssima qualidade que envolve uma profusão exuberante de bundas); ao pop rock, excluindo totalmente o rock tradicional e suas vertentes como o heavy, thrash (que não quer dizer lixo como ignorantemente alguns afirmam, e sim mexer-se, revolver-se), death, power, punk, folk.
Se, neste momento, a curiosidade mexeu com seus intestinos e te fez procurar, você vai perceber que, mesmo executando uma busca pouco profunda, essa tese de que sofremos de carência crônica de nomes cai por terra. Ao mero ato de digitar “metal brasileiro” no google abrem-se magicamente dezenas de direcionamentos para links relacionados ao metal e vários deles conduzem a páginas que mencionam nossas bandas de metal.
Pipocam nomes como Dorsal Atlântica, Overdose, Sepultura, Sarcófago, Chakal, Viper, The Mist, Azul Limão, Witchhammer, Holocausto – para mencionar apenas algumas das consideradas precursoras do movimento metal no Brasil.
A excelente Overdose chegou a fazer sucesso mundial nos anos 80/90 – e, uma curiosidade: o primeiro LP deles Século XX (1985) foi lançado em conjunto com o primeiro do Sepultura Bestial Devastation (1985) por motivos financeiros: nenhuma das duas bandas tinha dinheiro para bancar a produção de um Long Play por conta própria. Já são lendárias as histórias de que os fãs de Sepultura arranhavam o lado do Overdose, enquanto os fãs dos últimos faziam o oposto. Segundo consta, eu tenho um dos que escaparam à “ferocidade” da época, ainda orgulhosamente intacto. Quanto ao Chakal, pude presenciar um show deles em 2008 e, na ativa, continuam fiéis ao nome que construíram.
Em relação ao Dorsal, o Dividir e Conquistar (1988) permanece como um marco no metal brasileiro.
Dentre estas bandas, podemos pescar músicos respeitáveis como o Bozó, vocalista do Overdose, cuja foi e é uma das minhas influências, quando canto. Pit Passarell, baixista do Viper, Jairo Guedez (que já marcou presença em três: Sepultura, The Mist, Overdose), Paulinho Caetano (Witchhammer) e muitos outros, em uma lista também longa.
Eles contribuíram e ainda contribuem com o cenário Rock/Metal brasileiro constituindo-se como influência para, pelo menos, duas gerações – chegando à terceira (que inclui pequenos como meu Achilles, que tem nove anos, mas conhece mais de bandas brasileiras do que muitos marmanjos que fazem aquela cara de interrogação quando ele pergunta coisas como: “Você já ouviu Carro Bomba?”).
Estes músicos, “das antigas”, têm seu legado respeitado e vêem a continuidade de seu grande trabalho em bandas mais recentes como Tuatha de Danann (que já se apresentou em Lafaiete com seu folk metal), Krisiun, que produz death metal de respeito internacional desde 1990. Este fato é comprovado pelas excursões em shows próprios e em conjunto com bandas cujos nomes já são clássicos como o Kreator.
Além deles, não se pode esquecer do Concreto, há anos na estrada produzindo o bom e velho rock and roll, com trabalho autoral de qualidade e Cds primorosamente acabados (apesar de que nem todos encaixam-se na definição de metal).
Para mencionar ainda algumas bandas a cujos shows assisti recentemente, deve-se falar de Baranga e Patrulha do Espaço. Esta última, já há anos na estrada, continua com uma pegada forte e um show eletrizante. É só falar neles que eu começo a cantar: “Desce o véu no meio da noite/ Dois olhos brilham na escuridão (...)” – Olho Animal que é, de longe, minha favorita deles.
Então, que elas existem, existem. Que os nomes são de peso, são.
Então, porque estão tão distantes do público aficcionado?
A resposta é simples e triste: não valorizamos devidamente nossa própria produção. É algo como dizer que a grama do vizinho é mais verde e que a mulher dele é mais gostosa. Assim, nossas bandas carecem de apoio e dinheiro o que faz com que se desintegrem deixando, muitas vezes apenas saudades e belas músicas.
Cabe a nós, portanto, fãs do estilo cuidar para que, quando merecedoras dos nossos ouvidos, não deixemos de dar nosso suporte e de tê-las e a seus músicos como nossas referências em conjunto com aqueles outros nomes mencionados no início. Assim, garantiremos que, em acréscimo aos importados, tenhamos sempre o bom e velho metal à brasileira.
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