quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"Envenenamento de animais de rua: triste realidade no Bairro Bela Vista"

Há alguns anos resido no bairro Bela Vista: lugarzinho aprazível, com uma vista de dar inveja – bem merecedor do nome.

Minha família foi a segunda a mudar-se para este conjunto de 151 casas e aqui temos ótimos vizinho – humanos e animais.

Animais, sim, porque o bairro, por motivo que ignoro, passou a concentrar certo número de cães abandonados – ao redor da minha casa ficam vários: a alguns nos apegamos e as crianças da vizinhança deram nome. São muito queridos, apesar de não os podermos acolher – já possuímos nossas duas: Melissa e Pitchula.

Mesmo que não sejam nossos, desde que nos mudamos – e não havia mais ninguém na nossa rua – passamos a cuidar informalmente deles: dando água e ração sempre que fôssemos tratar das nossas, que ficam presas no canil. Ás vezes, temos dois, três cães “visitantes” aguardando um tantinho de ração, o qual jamais negamos, em especial aos que não possuem dono.

Aos poucos, a rua foi ficando habitada, assim como nosso bairro – famílias ocuparam todas as casas e várias delas compartilham com meu marido e eu o carinho pelos bichos. Assim, mesmo sem dono, os cachorros estavam bem alimentados, tratados contra pulgas e eram extremamente amistosos.

Alguns deles pareciam ter adotado nossa casa: ficavam por aqui, no entorno durante todo o dia e com muito carinho vinham nos receber quando chegávamos do trabalho.

É o caso da Pretinha e do Bege – os mais frequentes e mais queridos. A Pretinha, desde que nos mudamos para cá, já teve várias crias e, por sorte, conseguimos, junto com os demais vizinhos, arrumar casa para todos os pequenos. Também, eles saíam-se sempre à mãe: engraçadinhos, inteligentes, amistosos.

Pretinha e Bege, adotados pelas pessoas, ainda cuidavam das casas latindo estranhos que se aproximassem, mas sempre recebendo aos moradores com carinho.

Eu havia tentado que eles fossem recebidos na ONG que existe em Lafaiete e acolhe animais de rua, mas fui informada por uma de suas mantenedoras que, infelizmente, eles estavam sem espaço.

Assim, fomos levando – cuidando deles e eles sempre por aqui.

Qual não foi a minha surpresa quando, ao chegar em casa ontem, colegas de meu filho vieram avisar que o Bege estava morto – bem que havíamos estranhado sua ausência na hora da ração.

Meu marido e filho foram conferir e para nosso grande desgosto lá estava ele, realmente morto, com outro cachorro – este, sem nome – ao seu lado. Seus cadáveres haviam sido jogados próximo ao campinho em que as crianças do bairro jogam futebol.

Pretinha também está sumida o que nos preocupa e entristece.

Qual a conclusão óbvia? Veneno, é claro. Desde que nos mudamos contabilizei sete animais mortos, dentre gatos e cachorros.

É importante dizer que não sou dos “ecochatos” nem daqueles que tratam os animais como se fossem humanos. Não tenho a menor dor na consciência de consumir carne advinda de matadouros legais – não me vejo na obrigação de ser vegetariana porque amo os bichos. Entendo sua função social e alimentar, afinal, evolutivamente nem mesmo superamos o consumo de carne, precisamos dela.

Entretanto a crueldade com os animais me revolta.

Chega a me doer o estômago quando penso na dor sentida pelos meus amiguinhos de quatro patas quando mortos de tal maneira bárbara.

É óbvio que liguei para a polícia – envenenar animais é crime ambiental, está na Lei – mas fui obrigada a aceder quando informada pelo 190 que pouco poderia ser feito na ausência de um suspeito e que, normalmente, a investigação não seria feita pela Polícia Civil já que trata-se de um crime “menor”. Procurando informações na internet vi que, realmente, sem alguém para apontar como suspeito, pouco se pode fazer.

Posso entender que crimes contra humanos tenham prioridade de investigação por uma polícia que não possui contingente suficiente nem para tratar do necessário – mas, cá estou. De mãos atadas.

O sentimento de impotência é grande e justificado: possuímos uma lei cuja aplicação é impossível, uma vez que, mesmo que haja o envenenamento dos animais, mesmo que tal ato implique em prisão, ou, no mínimo em uma pena social, não há polícia que investigue e, portanto, não há juiz que puna.

Enquanto isso, meus amigos de quatro patas seguem morrendo. Ainda me lembro do último que se deitou no meu passeio para morrer babando, vomitando e retorcendo-se de dores.

Quanto ao Bege, espero que sua morte tenha sido mais breve e menos dolorosa.

Quanto a quem o envenenou: já que o braço da lei não lhe alcança, só posso desejar-lhe a mesma dor que causou aos meus amigos de quatro patas.

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