sexta-feira, 11 de maio de 2012

CCZ de Conselheiro Lafaiete - Campo de concentração para animais


Há cerca de 50 dias uma cadela da rua, a Pretinha – ela mora na rua e todos cuidam dela – resolveu parir na minha casa. Oito filhotinhos!

Eu e minha família os vimos sendo amamentados enquanto ao longo dos dias cuidávamos dela pensando em qual seria a melhor solução para doar os filhotinhos quando eles fossem desmamados – abandonar na rua, obviamente, era algo fora de cogitação.

É claro que a primeira opção era levá-los para o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da cidade – é para isto que ele serve, afinal!

E assim foram-se passando os dias, os filhotinhos foram crescendo e ficando muito engraçadinho, como todo filhote. Começaram a comer ração e, finalmente, chegou o dia em que deveríamos levá-los para o CCZ. Estávamos confiantes – havíamos visto em jornal da cidade reportagem dizendo que o órgão havia recebido uma recente injeção de dinheiro e que havia voluntários auxiliando no seu funcionamento.

Assim, liguei para lá relatando a minha situação e qual foi a informação que recebi: o CCZ não recebe animais – está superlotado e com vários animais doentes. Que eu deveria procurar doar por conta própria, deixar em casas de agropecuária que aceitassem expor os animais, ou levar a uma feira de adoção do próprio CCZ.

Fiquei brava! Achei que era má vontade – não havia lido a reportagem dizendo das maravilhas do lugar? Então, como assim estava cheio, com animais doentes contaminando uns aos outros? Como assim eu ainda teria que correr atrás de gente que quisesse os cachorrinhos sendo que existe um órgão responsável para isto?

De qualquer forma, meu marido e eu resolvemos que tentaríamos: em um sábado de manhã percorremos várias casas de agropecuária tentando deixar os cachorrinhos em exposição e não conseguimos – nem mesmo oferecendo para pagar os custos que existissem enquanto eles permanecessem lá.

Resolvemos, finalmente, ir ao CCZ e entregá-los lá. No caminho liguei para a Guarda Municipal relatando o problema e a ilegalidade da recusa de receber os filhotinhos - era esta a finalidade do órgão, afinal. Enfim, chegamos “armados” de nossos direitos – ou eles receberiam os cachorrinhos ou a coisa viraria caso de polícia.

Batemos no portão e a primeira surpresa – fomos recebidos por dezenas de cachorros – soltos e ladrando furiosamente. Não entramos: aguardamos do lado de fora.

Um voluntário nos recebeu na rua – e ele foi claro quando disse: “vocês que sabem, se quiserem, vão deixar os filhotinhos aqui, mas eles vão morrer. Estamos com uma crise com vários animais doentes, muitos com cinomose. Eles vão morrer. Vocês vão deixar eles aqui?” Ele aproveitou e nos informou que o CCZ estaria na festa de 1º de maio, na rodoviária, onde tentaria a doação de alguns animais.

Dispensável dizer que trouxemos os filhotinhos de volta - não os entregaríamos para uma sentença de morte.

Desta forma, no dia 1º de maio fomos à rodoviária com os pequenos e, mesmo que o pessoal do CCZ não tivesse aparecido, conseguimos doar 7.

Com o único filhote que restava resolvemos ir à Zoonoses saber o porquê de eles não terem ido até a festa na rodoviária e  - sinceramente – para avaliar se a situação seria tão séria quanto descrita pela pessoa que nos atendeu, ou se arriscaríamos deixar a filhotinha lá.

Desta vez, entramos. O cheiro do lugar era horrendo. A visão dos cachorros pior ainda – cães com feridas abertas, outros magricelos e mancando misturados a ainda outros aparentemente saudáveis. Todos soltos correndo para lá e para cá.

Quando chegamos, alguns voluntários procediam a limpeza do local que estava com fezes de todos os tipos espalhadas – dejetos de aparência normal, dejetos de diarreia, ou seja, situação completamente insalubre.

Os cães eram uma profusão de tamanhos: pequenos, médios e grandes. Soltos por todo o local, latiam loucamente e mordiam-se uns aos outros. Vários com pústulas purulentas pelo corpo, vazando sangue.

Um pequeno de aparência saudável me surpreendeu: quando cheguei, pulou em mim e me olhou de uma maneira que parecia dizer: “me tira daqui!” - foi de cortar o coração.

Enquanto esperávamos para falar com a responsável, Sr(a) Carla, pudemos ver as condições absurdas em que são deixados os cães: não há canil – cães doentes ficam junto com sãos. Não é a toa que estão com problemas com Cinomose – a doença é transmitida por secreções e não há isolamento para os cães doentes. É um absurdo!

É claro que é necessário que se faça um parêntese: as pessoas lá – funcionários e voluntários – esforçam-se em fazer o melhor. Mas o básico para que se faça o melhor é oferecer a eles condições de trabalho com locação apropriada e remédios e alimentos suficientes para tratar de todos!

Voltamos com a cachorrinha para casa e aqui ela ainda aguarda por uma família. Mas eu me pergunto: o que será daqueles cães?

E mais: quem na prefeitura deixará a hipocrisia de lado e fará com que o Centro de Controle de Zoonoses de Lafaiete funcione cumprindo sua função: que é recolher os animais, tratar deles e colocá-los para doação?

Porque, verdade seja dita, sobre campos de concentração tive apenas notícia – mas foi a primeira correlação que fiz quando lá pisei e vi em que condições a prefeitura de Lafaiete deixa os animais dos quais deveria recolher e cuidar.

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