Há cerca de 50 dias uma cadela da
rua, a Pretinha – ela mora na rua e todos cuidam dela – resolveu parir na minha
casa. Oito filhotinhos!
Eu e minha família os vimos sendo amamentados
enquanto ao longo dos dias cuidávamos dela pensando em qual seria a melhor
solução para doar os filhotinhos quando eles fossem desmamados – abandonar na
rua, obviamente, era algo fora de cogitação.
É claro que a primeira opção era
levá-los para o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da cidade – é para isto que ele
serve, afinal!
E assim foram-se passando os
dias, os filhotinhos foram crescendo e ficando muito engraçadinho, como todo
filhote. Começaram a comer ração e, finalmente, chegou o dia em que deveríamos
levá-los para o CCZ. Estávamos confiantes – havíamos visto em jornal da cidade
reportagem dizendo que o órgão havia recebido uma recente injeção de dinheiro e
que havia voluntários auxiliando no seu funcionamento.
Assim, liguei para lá relatando a
minha situação e qual foi a informação que recebi: o CCZ não recebe animais –
está superlotado e com vários animais doentes. Que eu deveria procurar doar por
conta própria, deixar em casas de agropecuária que aceitassem expor os animais,
ou levar a uma feira de adoção do próprio CCZ.
Fiquei brava! Achei que era má
vontade – não havia lido a reportagem dizendo das maravilhas do lugar? Então,
como assim estava cheio, com animais doentes contaminando uns aos outros? Como
assim eu ainda teria que correr atrás de gente que quisesse os cachorrinhos
sendo que existe um órgão responsável para isto?
De qualquer forma, meu marido e
eu resolvemos que tentaríamos: em um sábado de manhã percorremos várias casas
de agropecuária tentando deixar os cachorrinhos em exposição e não conseguimos
– nem mesmo oferecendo para pagar os custos que existissem enquanto eles
permanecessem lá.
Resolvemos, finalmente, ir ao CCZ
e entregá-los lá. No caminho liguei para a Guarda Municipal relatando o
problema e a ilegalidade da recusa de receber os filhotinhos - era esta a finalidade do órgão, afinal. Enfim, chegamos
“armados” de nossos direitos – ou eles receberiam os cachorrinhos ou a coisa
viraria caso de polícia.
Batemos no portão e a primeira
surpresa – fomos recebidos por dezenas de cachorros – soltos e ladrando
furiosamente. Não entramos: aguardamos do lado de fora.
Um voluntário nos recebeu na rua – e ele foi claro quando disse: “vocês que sabem, se quiserem, vão
deixar os filhotinhos aqui, mas eles vão morrer. Estamos com uma crise com
vários animais doentes, muitos com cinomose. Eles vão morrer. Vocês vão deixar
eles aqui?” Ele aproveitou e nos informou que o CCZ estaria na festa de 1º de
maio, na rodoviária, onde tentaria a doação de alguns animais.
Dispensável dizer que trouxemos
os filhotinhos de volta - não os entregaríamos para uma sentença de morte.
Desta forma, no dia 1º de maio
fomos à rodoviária com os pequenos e, mesmo que o pessoal do CCZ não tivesse aparecido, conseguimos doar 7.
Com o único filhote que restava
resolvemos ir à Zoonoses saber o porquê de eles não terem ido até a festa na
rodoviária e - sinceramente – para
avaliar se a situação seria tão séria quanto descrita pela pessoa que nos
atendeu, ou se arriscaríamos deixar a filhotinha lá.
Desta vez, entramos. O cheiro do
lugar era horrendo. A visão dos cachorros pior ainda – cães com feridas
abertas, outros magricelos e mancando misturados a ainda outros aparentemente
saudáveis. Todos soltos correndo para lá e para cá.
Quando chegamos, alguns
voluntários procediam a limpeza do local que estava com fezes de todos os tipos
espalhadas – dejetos de aparência normal, dejetos de diarreia, ou seja,
situação completamente insalubre.
Os cães eram uma profusão de
tamanhos: pequenos, médios e grandes. Soltos por todo o local, latiam
loucamente e mordiam-se uns aos outros. Vários com pústulas purulentas pelo
corpo, vazando sangue.
Um pequeno de aparência saudável
me surpreendeu: quando cheguei, pulou em mim e me olhou de uma maneira que
parecia dizer: “me tira daqui!” - foi de cortar o coração.
Enquanto esperávamos para falar
com a responsável, Sr(a) Carla, pudemos ver as condições absurdas em que são
deixados os cães: não há canil – cães doentes ficam junto com sãos. Não é a toa
que estão com problemas com Cinomose – a doença é transmitida por secreções e não há isolamento para os cães doentes. É um
absurdo!
É claro que é necessário que se
faça um parêntese: as pessoas lá – funcionários e voluntários – esforçam-se em
fazer o melhor. Mas o básico para que se faça o melhor é oferecer a eles
condições de trabalho com locação apropriada e remédios e alimentos suficientes
para tratar de todos!
Voltamos com a cachorrinha para
casa e aqui ela ainda aguarda por uma família. Mas eu me pergunto: o que será
daqueles cães?
E mais: quem na prefeitura
deixará a hipocrisia de lado e fará com que o Centro de Controle de Zoonoses de
Lafaiete funcione cumprindo sua função: que é recolher os animais, tratar deles
e colocá-los para doação?
Porque, verdade seja dita, sobre
campos de concentração tive apenas notícia – mas foi a primeira correlação que
fiz quando lá pisei e vi em que condições a prefeitura de Lafaiete deixa os
animais dos quais deveria recolher e cuidar.
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