É bom começar esse texto
afirmando que para mim usar qualquer animal para testes laboratoriais visando a
produção de cosméticos é errado - creio que nem precisa dizer. Para qualquer um
que tenha o mínimo de consciência isso é tão somente lógico. A minha vaidade
não vale o sofrimento de nenhum ser - por menor que esse sofrimento seja.
Entretanto, quando penso em
desenvolvimento de remédios é necessária uma maior reflexão por parte de todos.
Por ser um tema tão delicado, já
que envolve sim sofrimento de seres, venho ao longo dos anos tentando me
posicionar. E para tanto, ouvi pessoas das mais variadas colocações, li
reportagens das mais variadas fontes, conversei com protetores de animais que
respeitos (porque não respeito a todos por achar muitos deles um bando de
hipócritas). Enfim, procurei me informar de várias maneiras possíveis.
E o fato é que, quando converso
com quem entende do que está falando, todos eles, inclusive os protetores bem
informados, são peremptórios em afirmar que existem testes que podem ser
eliminados por medidas substitutivas. Mas existem outros muito importantes para
os quais não existe ainda medida alguma que os substitua para que se produza
uma substância que alcance a segurança necessária para ser testada em humanos.
Sim, porque os testes também são
feitos em humanos – não devemos nos esquecer - especialmente aqueles com
doenças irreversíveis que não respondem aos tratamentos existentes. A vários
deles, quando em tratamento em hospitais vinculados a centros de pesquisas, é
oferecida a possibilidade de servirem como cobaias em um dos últimos passos da
pesquisa para que a substância seja, finalmente, oferecida para a população
geral.
Porém, meu dilema ético
permanecia. Porque eu realmente gosto de animais. Muito.
Por isso continuei conversando e
pesquisando. Até que outro dia, em conversa com uma protetora de animais
extremamente coerente e que admiro muito, a Rosimeire, eu consegui entender o
cerne da divisão entre os que se posicionam reacionalmente a favor ou contra os
tais testes. Ela me disse: “o sofrimento dos animais é equivalente ao meu. Eu
não vejo diferença entre eles e eu. Então, não admito testes neles.” E mais,
como pessoa bem informada que é – e radical na sua defesa dos direitos dos
animais – disse: “não existe substitutivo para todos. Com a proibição dos
testes haverá mais vontade e empenho em descobrir tais métodos. Enquanto a lei
permitir os testes, não haverá esforço para que os animais sejam protegidos.”.
Daí percebi que o cerne está em
pensar que os animais devem ser revestidos dos mesmos direitos da pessoa humana.
É, de fato uma questão ética. Quem está certo? Quem pensa assim ou quem não
pensa?
Eu poderia lhe afirmar que não há
certo ou errado, já que esse posicionamento é baseado em formas diferentes de
encarar os vários seres que habitam esse nosso planeta. E todos nós temos o
direito e o dever de nos posicionar após reflexão e raciocínio. Mesmo que tal
reflexão e raciocínio gerem pensamentos e opiniões diferentes em pessoas
diferentes.
Por isso, eu respeito muito a
opinião dessa minha amiga, defensora tão apaixonada de suas opiniões. E eu
confesso: gostaria muito que estivéssemos em um momento científico em que
pesquisas em animais VISANDO A PRODUÇÃO DE MEDICAMENTOS pudessem ser
completamente eliminadas. A verdade é que ainda não podem.
E é claro - não estou defendendo
nem esse nem aquele laboratório. Especialmente os que fazem pesquisas para
cosméticos ou que descumpram o que a lei permite em termos de testes em
animais. Esses últimos, inclusive, devem ser punidos nos rigores da lei.
Porém continuando a reflexão com
vocês, caros leitores, gostaria que escolhessem o que preferem – mesmo que não
seja uma escolha fácil. E foi a resposta a essa hipótese que solucionou para
mim e, finalmente, fez com que eu pudesse me posicionar.
Assim, eu pensei em qual situação
me sentiria pior (lembrando: nesse caso não há escolha 100%).
Escolha, como eu escolhi entre
dizer a um tetraplégico que ele jamais poderá andar porque, por exemplo,
médicos como Miguel Nicolelis vão ter que parar de testar em cérebros de macacos;
ou pensar que esses mesmos macacos (e outros animais) estão sendo usados em
testes que gerarão benefícios e garantirão a melhor saúde para a humanidade.
Eu escolhi a segunda. Avaliando o
custo ético de ambas, para mim, a segunda opção é a válida. Porque se aquele tetraplégico,
aquele canceroso, aquele diabético, aquele portador de tantas outras síndromes
passíveis de serem amenizadas ou curadas com esses químicos que precisam dos
testes tratados aqui para serem seguros, fossem meus entes queridos eu não
perguntaria se o remédio foi experimentado em algum animal. Eu perguntaria se o
remédio FUNCIONA.
É o mesmo caso, por exemplo, dos
casacos de peles: no corpo de qualquer um para mim é um acinte. Desnecessário!
Abusivo! Exceto se for um inuit (esquimó). Para eles é uma questão de
sobrevivência - e é aqui exatamente onde eu queria chegar. Se não é uma questão
de sobrevivência - testes que garantam melhoras à saúde da humanidade, para mim
não se justificam.
Entretanto se forem para
medicamentos, se justificam - SE E ENQUANTO NÃO HOUVER OUTRO TESTE QUE OS
SUBSTITUAM.
Pelo simples fato de que eu não
sou hipócrita. Eu consumo remédios - nem que seja para uma esporádica dor de
cabeça. Se meus entes queridos adoecerem eu quero substâncias químicas seguras
para que eles alcancem a cura.
Entretanto, sem nunca esquecer
que pesquisas podem e devem ser feitas para que se busquem mais e mais métodos
substitutivos de forma a chegar o dia em que se possam eliminar completamente
os testes em animais. Talvez, isso devesse fazer parte da lei que regulamenta
os tais testes - que se o laboratório se predispõe a fazer testes nos bichos,
que parte de seus lucros sejam revertidos obrigatoriamente para instituições
que pesquisem a substituição dos animais nesses experimentos. Quem sabe assim
não se chegaria mais rápido a uma solução para esse que para mim, e para
tantos, é um impasse de consciência?
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