Hoje, recebi de meu marido,
ferroviário, uma ligação bombástica – o Ministério Público havia encontrado
meios para fechar a oficina da MRS em Conselheiro Lafaiete ,
de acordo com comunicado dentro da própria empresa.
Os funcionários da MRS, em si,
seriam remanejados para outras cidades, em especial, Jeceaba. Todos os
funcionários da terceirizada, maior parte dos lotados ali, foram sumariamente
demitidos pela simples questão de que seus postos de trabalho foram extintos.
Mais de 90 pais e mães de família estão desempregados. Simples assim.
Bem, já há certo tempo, tem
acontecido um trabalho de demonização desta empresa em Lafaiete, não há como
negar.
Aí, você me fala: demonização
merecida! E pergunta: Não é esta empresa que, apenas por ter sido forçada via
TAC (Termo de Ajuste de Conduta), reforma o “Castelinho”? Não é esta empresa
que atropela pessoas e causa acidentes ao longo da linha férrea? Não é esta a
empresa que inferniza a vida dos moradores que moram perto da oficina com
barulho em demasia? Então ela não merece
ser pichada e levar um belo “pé na bunda” da cidade de Lafaiete, tão judiada
por ela?
Pensemos. Para responder à
primeira pergunta vamos entender o que é TAC (Termo de Ajustamento de Conduta).
Este é uma espécie de acordo, normalmente proposto pelo Ministério Público e
sacramentado por um juiz, em que uma empresa ou quem quer que seja aceita, em
vez de pagar multa, fazer um ajuste de procedimentos para que pare de infringir
a lei. Ninguém é obrigado a assinar um TAC – você pode simplesmente aguardar
que o caso seja levado à justiça, ou pagar a multa, quando for o caso, em vez
de investir o dinheiro na cidade.
É impressionante como alguns
veículos de comunicação lafaietenses insistem em dizer que a MRS foi obrigada a
aceitar o TAC e investir no Castelinho, reformando-o. É contar demais com a
ignorância da audiência/leitores alegar algo assim. Vê-se então má fé de quem
divulga notícias tentando distorcer os fatos. Começa-se até a questionar quais
seriam os interesses por trás disto.
Falemos agora de acidentes na
linha férrea, a próxima pergunta. E, ao falar deles, devem-se mencionar as
famigeradas buzinas. Só, que não esqueçamos que elas são acionadas como
procedimento de segurança, mais de uma vez antes de um cruzamento. Oras. O trem
só anda sobre a linha. E ainda avisa a boa distância que está passando! Querer
culpar a empresa de trens pela imprudência alheia que acaba em acidentes,
realmente, é demais!
E quanto à terceira pergunta?
Havia realmente uma questão significativa com relação ao barulho, em especial,
no período da noite, barulho este produzido pela oficina com os testes nos
trens e etc. Concordo que é impossível que determinado grau de ruído aconteça
intermitentemente, dia a dia, em área urbana, especialmente em período noturno.
O Ministério Público, então, acionou a justiça e o barulho foi limitado aos
horários diurnos. Simples assim. Todos têm que seguir a Lei e o bom senso,
óbvio.
A MRS ficou satisfeita de ter seu
horário de trabalho limitado? Certamente não. Os moradores ficaram 100%
satisfeitos? Certamente não. Mas foi um acordo plausível em que os horários de
descanso dos moradores passaram a ser respeitados? Obviamente! As condições de
trabalho da MRS foram mantidas, mesmo que reduzidas? Sim – ou seja, estavam
preservados os empregos.
Então não é tão simples continuar
reiterando a questão do barulho como se não tivesse havido nenhuma mudança.
Em acréscimo, a família de meu
marido é originária da região de Divinópolis. Na cidade, há também uma linha de
trem que a corta e uma oficina que funciona, inclusive, no bairro de uma das
tias dele – como aqui. A empresa ali é a FCA.
E o barulho também faz parte da
rotina da cidade – a diferença é que a FCA fica em um bairro mesmo, retirado do
centro, diferente da MRS cuja oficina fica em uma das principais avenidas de
Lafaiete, tendo intenso tráfego de carros e caminhões durante todo o dia. Pode-se
pensar: os moradores de lá devem ser revoltados! Reclamam demais! Certo?
Errado! Além de não se queixarem
do barulho que acontece durante o dia – como delimitado pela decisão judicial
em Lafaiete – ainda fizeram um movimento para ressuscitar a escandalosa sirene
que marcava os horários dos funcionários, seja de entrada ou saída, seja da
hora do almoço. A buzina foi transformada em patrimônio da cidade e a empresa
teve que apressar-se em trazê-la de volta. Os moradores disseram que a buzina
os acompanhou durante toda uma vida – seria descaracterizar sua memória
retirá-la deles. Belíssimo documentário elaborado por alunos de faculdade de
comunicação local retrata o acontecido. (Alguns detalhes ainda podem ser vistos
no blog http://uoon.blogspot.com.br/.)
É claro que comecei a me perguntar
o que levou situações tão semelhantes a terem soluções tão diferentes? Em uma a
empresa parece agregada à cidade e à sua rotina. Na outra, a empresa é tratada
como intrusa por alguns, que são aqueles que levaram o caso até a justiça.
Mas continuemos pensando. E que
fique claro que não questiono a emissão de ruídos – todas as atividades humanas
o fazem. Com as empresas não seria diferente, mas como esclarecido, a oficina
possuía já horário de funcionamento delimitado – testes (que são os mais
barulhentos) até as 18h e demais atividades até as 22h.
E mais, havia o TAC: e conforme
largamente noticiado em maio, ações estavam sendo tomadas em conjunto por
Ministério Público, Prefeitura e MRS para minimizar problemas e investir em
cultura.
Assim, fica óbvio que algo está
sendo deixado fora da balança.
Por exemplo, muito se falou do
ruído. Mas e os empregos? Diretos e indiretos, que fique claro. Pois, desde a
limitação do horário de funcionamento da oficina e transferência de parte das atividades
para Jeceaba, conheci pelo menos um restaurante que fechou. Servia almoço e
jantar para os funcionários da MRS. Além dele quantos mais? E agora? Quantos
outros comércios, por exemplo, que vendem ferramentas, rolamentos, parafusos,
mangueiras – que forneciam para a oficina que sofrerão quedas nas vendas? E a
diminuição na arrecadação para Lafaiete?
Mas, como meu pai sempre me disse
para cada ação há uma consequência, por isso devemos pensar bem antes de tomar
decisões para não incorrer no erro da precipitação.
Aí você me diz: precipitação? Mas
os moradores da Marechal já esperaram por muito tempo! Já foi tarde oficina da
MRS! Queremos nosso silêncio!
Esquecem-se, aqueles que assim o
pensam, que a MRS não é uma entidade que tenha vida por si só. Ela é
constituída por indivíduos e a cada indivíduo corresponde uma família. E hoje mais
de 90 chegarão em casa dizendo que perderam seu ganha pão.
Ah! Digamos a eles que se
consolem: afinal, o “silêncio” da Marechal foi sacramentado (silêncio este
impossível – com ou sem MRS). Expulsamos o demônio de nosso meio! Barulho: nem
de noite, nem de dia! Trata-se de avenida já tão silenciosa, não é? Que se
danem os que perderam seus empregos e os que ainda perderão em efeito cascata!
Dane-se a diminuição de vendas de quem comerciava com a empresa e seus
funcionários! Dane-se a queda na arrecadação de impostos! Viva o sossego!
Agora, durma-se com um barulho
destes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário