terça-feira, 30 de junho de 2009

Votar ou não votar, eis a questão

Mais um escândalo: mais uma vez o palco é o senado. De uma maneira recorrente, nos últimos anos tenho me sentindo em um filme no qual um roteirista sem talento e repetitivo quer fazer seu texto soar como novidade ao utilizar-se de personagens diferentes.

Desde o início da era Lula-lá uma sucessão de escândalos têm exposto as entranhas podres da nossa politicagem (é claro que não sou simplista e leviana: não afirmo que a corrupção surgiu com Lula – apenas digo que para quem se auto-elegeu o bastião da honradez, ele é muito conivente). Digo que fazemos politicagem porque, até onde percebo, não fazemos política há tempos. Chego até a me perguntar se é que alguma vez em nossa história chegamos realmente a fazer.

Segundo o dicionário Priberam de Língua Portuguesa (consultado em 27/06/09) vê-se a seguinte definição sob o verbete política: (grego politiká, assuntos públicos, ciência política) s. f.
1. Ciência do governo das nações.
2. Arte de regular as relações de um Estado com os outros Estados.
3. Sistema particular de um governo.
4. Tratado de política.

Estas definições fizeram-me questionar o quanto nossos políticos estariam (ou não) familiarizados com o termo. Vê-se que política é Ciência, Governo, Regulação. Todas estas nos dão a idéia de organização, precisão, direcionamento – características que parecem nos faltar neste ramo.

Porém, continuando minha leitura sob o verbete, pude ver que de alguma forma, fazemos política já que, o mesmo vocábulo é também:

5. Fig. Modo de haver-se, em assuntos particulares, a fim de obter o que se deseja.
6. Esperteza, finura, maquiavelismo.

Ora, estas últimas definições me fizeram pensar na estrutura sobre a qual se desenvolveu a nossa maneira de fazer política (que parece adaptar-se mais a elas do que às anteriores).

Quando os “homens bons” aportaram em nossas paragens com suas escrituras de doação de largas porções de terra, já se sinalizava como seria nosso futuro: maquiavelismo, esperteza, nepotismo, favoritismo, a coisa pública sendo usada em beneficio próprio “a fim de obter o que se deseja” etc.

Um senhor, dono de capitania hereditária, transmitia, qual rei vassalo, o poder a seus descendentes, de forma que eles, por sua vez, sugassem o que pudessem das tetas da Pátria - acumulando riquezas para si, para os seus e para a metrópole – quanto menor a fiscalização, mis esta ordem de prioridades se ressaltava. Todos tratavam de haver-se, de se ajeitar.

Com o correr do trem da história, estas práticas não foram abolidas – nem mesmo realmente combatidas. Presentemente, existem leis contra o nepotismo – alguns podem argumentar – mas quando vejo os jornais, a impressão que tenho é que são daquelas leis que ninguém gosta, ninguém quer, ninguém fiscaliza. Em resumo, ninguém sabe, ninguém viu.

Aliás, a verdade é que se deveria estudar o encanamento de Brasília. Certa vez li alguns estudos que sugeriam que os imperadores romanos eram tão comumente acometidos pela loucura devido ao acúmulo de chumbo em seus organismos derivados do encanamento feito com este material.

Em Brasília, a água pode estar causando perda da visão e da capacidade de apreender fatos – algo relacionado à perda de memória, afinal, jamais se viu tanta profusão de “eu não sabia” (e suas variantes), “eu não vi” (e suas variantes).

O primeiro acometido desta moderna doença foi o nosso erudito presidente o qual, mesmo que seus auxiliares mais próximos estivessem intimamente envolvidos em esquema de recebimento e pagamento de propinas (o quase esquecido mensalão) para garantir apoio político ao PT, assim como o caixa dois do mesmo partido, continuou afirmando que de nada sabia, nada vira e a tudo ignorava. Interessante relembrar que este mesmo PT, aclamado por filiados como a epítome da ética e da moral, teve suas ações defendidas por Lula-lá (quando não teve mais como negar as denúncias – frise-se) com a singela frase: “todo mundo faz”.

Espero que aos empresários não seja permitido usar do mesmo ardil: ao se descobrir que suas empresas estejam envolvidas em esquemas corruptos, que eles não possam simplesmente lavar as mãos e dizer que ignoravam, não viram ou não acreditam, posteriormente justificando com “todo mundo faz” e escapem ilesos.

E, ano após ano, ele continua com a política de “muito barulho por nada”: os errados somos nós que cobramos, é a mídia que denuncia. Much ado about nothing, já dizia Shakespeare, certamente intimamente conhecido de nosso comandante, já que é tão citado por ele.

Recentemente, acolhendo e classificando a José Sarney como cidadão incomum, acima de todos nós e de nossa Constituição, Lula deve ter aumentado a resistência física do cadáver de Ulisses já que o obrigou a dar voltas em seu túmulo marítimo, incomodado que deve ter ficado ao ver que as leis pelas quais tanto batalhou não abarcam toda a população. Existe uma classe privilegiada que não está submetida a elas – a dos homens que fizeram história. Mesmo que o homem em questão seja nosso ex-presidente, imortal da Academia Brasileira de Letras por sua extensa produção intelectual, cuja família senta-se inerte sobre os problemas do Maranhão.

Por falar em Maranhão, ele fica aqui mesmo neste país – e não no Sudão como pode supor qualquer passante desavisado que tenha que usar banheiros de lona ao se chacoalhar pelo excelente pavimento do estado. Quem sabe o milhão encontrado no comitê da filha daquele mesmo ex-presidente maranhense porreta não ajudasse a tampar alguns buracos?

Mas, voltando ao nosso estimado presidente atual, este cuja atuação internacional nos rendeu a perda de uma cadeira na ONU e afrontas não respondidas dos hermanos vizinhos, que estatizaram prédios da Petrobrás e romperam acordos bilaterias (sem esquecer, é claro, dos tapinhas nas costas do esclarecido, culto e bem ajambrado Ahmadinejad, além da tentativa de abertura da embaixada em um país de absoluto respeito internacional – a Coréia do Norte). Ele mesmo, com seu jeitinho brasileiro de quem não se mexe quando vê alguém fazendo algo que o beneficiará sem esforço, finge não ver nada enquanto aliados do baixo clero tentam (esperemos que em vão) ver se há espaço para arquitetar um terceiro mandato ou aumentar os mandatos para cinco anos e impedir a re-eleição.

O que ele ganharia com isto? Ora, a possibilidade de esperar menos para poder concorrer de novo e, após ganhar, reafirmar que os cinco anos são balela e tentar modificar tudo para se re-eleger novamente. E alguns ainda o consideram ignorante...

O óbvio é que a sede de poder tomou de assalto o PT. Mas, quanto disto ainda poderemos suportar é a questão que, de fato, importa.

Mensalão, terceiro mandato, crise nas assembléias, terceiro mandato, crise no senado, terceiro mandato... Sinto-me um dos três porquinhos na casinha de palha com o lobo soprando do lado de fora.

Mas, ainda pior do que políticos mal intencionados e suas elucubrações, é perceber que existe um fôlego para o terceiro mandato: logicamente a população paupérrima que se sustenta com o Bolsa Família ou com qualquer outra esmola fornecida pelo poder federal vai levá-lo de volta ao Palácio por 500 mandatos, se possível for.

Assim como levará Severinos, Jeffersons, Sarneys, Newton-Cardosos e demais de volta aos seus postos prontos a executar quantas políticas assistencialistas forem possíveis para garantir sua volta perene aos seus mandatos ou a outros, segundo seus interesses.

E o voto obrigatório é a ferramenta mais preciosa e acurada que pode existir para que se garanta isto. Enquanto a massa inculta enche a barriga com a esmola do governo e freqüenta escolas deprimentes que não a conduz à informação e ao raciocínio crítico for obrigada a comparecer às urnas, esta falácia continuará sendo parte de nossa história. Elas retornarão ao poder pessoas com a mesma mentalidade colonial (proteção do próprio em detrimento da coisa pública) de sempre.

É claro que não quero dizer que a população que sofre de privação deveria ser deixada a própria sorte enquanto apenas ações de longo prazo são executadas para garantir educação, saúde e emprego para futuras gerações. Programas que forneçam a estas famílias o que comer hoje – já que a fome não espera – são de vital importância. Todo o problema surge quando tais programas não são acompanhados de um plano de ação cujos objetivos sejam fornecer meios para a geração de renda por parte das próprias famílias necessitadas. Da maneira como é feito pelo atual governo, pesca-se eternamente o peixe para que, ao não saber pescar, a família não produza um número maior de peixes que lhe possibilitem investimentos outros, como em informação e educação, as quais levam ao senso crítico – que retira políticos ineptos.

Círculo vicioso perfeito, como se pode perceber.

É a certeza de que esta população perpetuará no poder os eternos “pais dos pobres” é que me faz partidária do voto não-obrigatório.

Quando o voto não é exigência como em nosso país, apenas aqueles que desejam realmente votar comparecem, é claro. Para que se deseje votar, tem-se que acreditar em um candidato o suficiente para deixar o churrasco de domingo com a família, para enfrentar a fila da urna.

Alguns argumentam que assim, o destino do país correria o risco de ser decidido por uma minoria.

Desde que esta minoria fosse pensante, informada e engajada, para mim não haveria problema: a decisão deles refletiria uma visão crítica acerca do panorama político do país. Certamente, não haveria voto comprado com assistencialismo. E se houvesse, ele, possivelmente, não garantiria a eleição de incomuns – como nosso distinto e exemplar senador que sofre do mesmo mal do nosso sábio presidente: a ignorância (do verbo “ignorar, não saber” – que fique claro). Ignorância esta que remete ao fato de que a população deseja as definições de 1-4 para a nossa política e um basta nas 5 e 6 (Segundo o dicionário mencionado no início desta crônica).

Vê-se, afinal, que o voto em massa, como hoje, não nos leva à depuração daqueles que regem nossas vidas (afinal, políticos tomam as decisões que nos afetam diariamente). Já se afirmou, sabiamente, que a “massa é burra”. Sendo assim, “massa burra” elegendo produz fornadas infinitas de pizzas.

É óbvio que não quero afirmar que o simples fato de fazer da votação algo não obrigatório agirá com força balsâmica curativa sobre todos os nossos males históricos. Afirmo apenas que, se o comparecimento às urnas ficasse atrelado à vontade e motivação do eleitor, políticos e partidos teriam que se desdobrar em resultados para comprovar suas ideias e ideais a fim de que, com motivação aflorada, a população lhes confiasse a procuração, que é um mandato.

É o que se vê acontecer em países em que o sistema eleitoral já funciona assim: quando algum candidato faz crer à população que suas propostas são exponencialmente melhores e mais bem fundamentadas que as dos outros, os cidadãos comparecem em massa para garantir sua eleição.

Mas, o que de fato sei é que da maneira como está hoje, de que adianta votar conscientemente se, a cada voto consciente corresponderem centenas de “votos de fome”?

Alguns, ainda adeptos da utopia do “vamos conscientizar a população”, crêem que há jeito. Porém, com todo o meu ceticismo e pragmatismo afirmo que quem não possui alimento, saúde e educação é, sem maiores esforços, usado como massa de manobra por aqueles que não padecem da falta de alimento, nem de saúde, nem de educação. Mas que padecem sim da falta de brio, moral e ética.

Resta-nos, com certeza, pouquíssima esperança de mudança.

Mas, ela é a última que morre, Deus é brasileiro, tudo é lindo no país do carnaval e maravilhoso na Copa do Mundo (desde que a gente ganhe, é claro).

Panis et circus - como se vê não são apenas problemas de encanamento venenoso que nos aproximam da antiga Roma.

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